1930 - 2020
Sentava-se do lado direito do sofá e segurava a mão da esposa, que apesar do Alzheimer, dele nunca se esqueceu.
Seu Francisco, Chiquinho, esposo, pai, vovô e biso. O "nosso velhinho teimoso", como era chamado carinhosamente por sua neta Marcella, foi carioca de corpo e alma e aprontou bastante a juventude.
Flamenguista convicto, não dispensava um mergulho no mar e uma cervejinha gelada. Trabalhou em uma revista famosa e sempre se orgulhava em falar dessa época de sua vida.
Conquistou sua companheira, Dona América, em uma viagem à Goiás. Ela, que já estava de casamento marcado, se rendeu ao amor à primeira vista - em um baile da cidade - e mudou todos os seus planos.
Em três meses eles se casaram. Juntos foram morar no Rio de Janeiro e dessa união de mais de sessenta anos, nasceram suas filhas, Jurema, com quem tinha grande afinidade, e Magda. Delas vieram os netos: Marcella, Tales e Mateus; e os bisnetos Maria Beatriz, Mateus, Manuela e Alice.
Enquanto o corpo permitiu, tinha o hábito de caminhar até a Praia de Icaraí para dar um mergulho e tomar sua cervejinha. Aos 89 anos Seu Francisco esbanjava uma lucidez invejável, mas sentia o peso de uma velhice difícil, com diversas limitações físicas.
Sentava todo dia, religiosamente, do lado direito do sofá e segurava a mão da Dona América, que apesar do Alzheimer avançado, dele nunca se esqueceu.
Quando sua neta Marcella passou no vestibular para o curso de Medicina, foi aquela alegria! O avô orgulhoso dizia que estava esperando ela se formar para cuidar dele; e que o dia da formatura, da missa e todo o ritual estava sendo esperado ansiosamente por ele.
Chiquinho partiu deixando um vazio enorme na sua casa e nos corações de toda sua família. "Fica a saudade do seu 'abraço de urso', das nossas conversas no fim de tarde, dos telefonemas para dizer que estava com saudade e até das suas reclamações. Saudades do vovô, do nosso grande amigo! Tentamos protegê-lo de todas as maneiras, mas, infelizmente, tinha chegado a hora do nosso passarinho voar..." relembra e se emociona Marcella.
Francisco nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Francisco, Marcella Donato Costa. Este tributo foi apurado por Sonia Ferreira, editado por Sonia Ferreira, revisado por Ana Helena Alves Franco e moderado por Rayane Urani em 30 de junho de 2021.