Sobre o Inumeráveis

Francisco Nogueira da Silva

1948 - 2020

Construía casas para realizar os sonhos de sua família.

Esta é uma homenagem da neta Niedja para seu avô, Francisco:

Um ser humano incrível, um homem de força, de responsabilidade, fé e coragem. Este era o meu avô e meu pai. Durante sua vida o que sempre o preocupou foi criar os filhos, vestir, alimentar e educar para que fôssemos "gente", para que conquistássemos o que sempre almejamos. E sempre dizia: "Trabalhe, corra atrás".

Seu corpo era marcado por inúmeras deficiências adquiridas no seu trabalho como pedreiro, suas mãos já não abriam como antes, o cimento o deixou com marcas visíveis e invisíveis. Mas sua jornada de trabalho não termina por esses motivos citados.

Vendo que ainda precisava trabalhar para ajudar em casa, saía as 4h30 da manhã de bicicleta, levando café, chá, sucos para iniciar seu trabalho em um fiteiro localizado no distante centro da cidade, localizado em frente a um hospital, onde ficava até as 17h. Descendo e subindo ladeira, todos os dias, de segunda a sexta para essa nova jornada de trabalho. Chegava em casa às 18h, tomava seu banho, jantava e saía para ser vigia em um colégio estadual do bairro. Essa rotina foi vivida por um longo período, até que conseguimos aposentá-lo.

Vivia seus dias fazendo suas atividades de manutenção da casa, gostava de ficar na calçada conversando ou na sua rede, no quintal de casa. Aos domingos, casa cheia, netos animando seu dia, arrancando suas risadas e esse era seu maior prazer.

Ele não foi mais uma vítima, não foi mais um, meu avô foi o ser humano que cuidou de mim quando não tive pai, que trabalhou a vida toda para que tivéssemos tudo que temos hoje, foi a pessoa que sujou suas mãos para construir sonhos, construir casas.

Meu avô, temos tanto orgulho do senhor, obrigada pelo homem maravilhoso que sempre foste, seguimos tristes por tua partida, mas consolados por Deus. Que Deus tenha reservado o melhor lugar para ti!

Te amo, te amamos, você é inumerável, único.

Francisco nasceu em Alagoinha (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Francisco, Niedja Nara Bezerra Medeiros. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Manuella Caputo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de outubro de 2020.