Francisco Océlio Alves Farias

1963 - 2020

A boa amizade do Capacete foi o que valeu a pena.

Océlio ou Capacete - porque ele tinha um cabeção - foi o sujeito mais divertido que a amiga Vânia conheceu. Ele era muito brincalhão e ela não se lembra de tê-lo visto com raiva.

Cresceram correndo juntos na mesma rua. Até o dia que ela viu o pai do Capacete ir embora e deixar a mãe com cinco filhos pra criar sozinha. Foi quando ele parou de brincar e começou a trabalhar. Só mais tarde, Vânia entendeu que ele tinha começado, a partir daquele momento, a ajudar a mãe a criar os irmãos.

Meteu-se, então, na mecânica numa oficina de carros da rua. Aprendeu o ofício e ficou sendo o melhor do bairro pouco tempo depois. Tratou logo de ensinar o ofício aos irmãos e ajudou a todos pra que montassem sua própria oficina.

Assim, com o tempo, cada um foi se casando, formando família e mudando de bairro ou de cidade e fazendo seu futuro. Mas Capacete nunca sossegou, nunca conseguiu formar uma só família. Teve várias. Teve três filhas e dois filhos com três esposas diferentes, porque dizia que era apaixonado pela vida.

O que ele gostava mesmo era de uma roda de amigos em torno de uma boa cervejinha ao som de Amado Batista. Mas nunca houve ninguém que dissesse dele um desabono. Sua solidariedade amansava os corações de todos ao seu redor.

Para um torcedor apaixonado pelo Ceará, seu time do coração, podia-se dizer que ele morreu no seu espaço de paixão: morreu no estádio. Mas não foi durante um jogo, não foi vendo seu Ceará jogar - o Vozão, como é chamado seu time pelos torcedores. Foi no estádio transformado em hospital de campanha.

"Sua bandeira do exemplo de alegria e de solidariedade sempre estará no alto do mastro, Capacete. Ajuste os motores aí no céu, amigo. Até um dia.", diz a amiga Vânia.