1942 - 2021
Dotado de fé inquebrantável, rezava inúmeras novenas, como forma de pedir a bênção e a proteção divina para quem ele amava.
Seu Francisco, conhecido popularmente como Valdo Pedro, foi um nordestino arretado, que não levava desaforo para casa e que carregava consigo a firmeza de caráter, explícita em suas suas palavras que eram sempre honradas. Apesar de à primeira vista, parecer sisudo, possuía um senso de humor inigualável que arrancava gargalhadas por onde fosse.
Casou-se com Maria, grande amor de sua vida, em um enlace de cinquenta e oito anos, até a partida dele. A relação entre os dois foi construída tendo como base: o amor, a admiração e o companheirismo, já que não se desgrudavam por nada.
Do amor do casal, vieram treze filhos: Francisco Airton, Jacira, Helena, Ana, Simone, Sandra, Antônio, Joel, Marciano, Elias, Enoque, Geraldo e José Edilson. Pai exemplar, fazia de tudo por sua família, se esforçando ao máximo para que nunca faltasse nada em seu lar. Compreendia que tão importante quanto o pão de cada dia era o alimento espiritual, a proteção divina. Dotado de muita sabedoria, ensinou valores, princípios e lições valiosas por meio de conversas constantemente construtivas.
Foi também avô carinhoso de seus vinte e cinco netos: Rafael, Yasmin, Iara, Naiara, Douglas, Teones, Matheus, Matias, Angélica, Angelzina, Cleilton, Matheus, Douglas, Vanusa, Alice, Michelle, Ednildo, Edenilson, Edmilson, Maria Laura, Maria Luísa, Letícia, Maria Júlia, Evandro e Valéria.
Os olhos de Seu Francisco brilhavam ao ver a casa repleta de pessoas queridas ao seu redor, tanto que o almoço de domingo, com direito à mesa farta e ao som dos acordes de uma viola, transformou-se em tradição entre familiares e amigos.
Enquanto todos aguardavam a refeição ficar pronta, era certo que haveria longas e proveitosas conversas e que ninguém poderia ir embora sem antes fazer seu prato. Apesar de a família ser tão numerosa, nunca se esquecia de ninguém: lembrava-se de todos e caso algum de seus filhos ou netos faltasse, já ia logo perguntando o motivo daquela pessoa querida não ter ido almoçar ao seu lado.
Depois do almoço, as conversas se perpetuavam até o cair da tarde, junto a um jogo de dominó ou baralho, em meio a voz grave do patriarca da família, que inundava todo o ambiente. Para ele, a maior satisfação era ter com quem conversar: bastava alguém puxar uma cadeira para se sentar ao seu lado, que ele logo compartilhava as suas histórias de vida. Por isso, ao anoitecer, sentava-se habitualmente na calçada de sua casa e quando algum conhecido passava, já o convidava para uma prosa.
Extremamente trabalhador, dedicava-se à criação de animais, por horas a fio do seu dia, tendo um carinho todo especial por suas vacas de leite, que rendiam o alimento diário no café da manhã para sua família.
Devoto de Nossa Senhora de Fátima e do Divino Pai Eterno, não perdia sua novena por nada; ele acompanhava as orações todos os dias, de manhã e à tarde, pela televisão. Antes de começar a prece, preparava uma garrafa d'água em frente à tela e ao término da oração, fazia questão de que todos que estavam em sua casa, bebessem a água benta."Meu avô incessantemente pedia para celebrar novenas em sua casa. A devoção era tamanha, que no terceiro dia de cada mês é rezada uma novena como forma de homenageá-lo", conta a neta Iara.
Dotado de muita fé, aos domingos, religiosamente assistia à Santa Missa, celebrada pelo padre Marcelo Rossi. Quando terminava a cerimônia eucarística, pedia para ligarem o som para ouvir o disco de Lucas Evangelista e Luzia Dias: encantava-se pela poesia dos repentes da dupla cordelista que evidencia a Cultura Nordestina em seus versos. Quando as canções do CD terminavam, pedia para que as colocasse novamente. Sentava-se, diariamente, no banco do alpendre para ouvir as canções. Aos sábados, ia a um campo de futebol próximo de sua casa para assistir aos jogos do Fluminense, seu time do coração.
Ele foi sobretudo, um homem dotado de simplicidade encantadora e de sabedoria profunda. Em cada conversa, em cada ensinamento e em cada gargalhada, deixou um pouco dele com quem ficou. Em cada novena rezada, deixou um pouco de cuidado a quem amava. Patativa do Assaré, poeta cordelista, recitou:
"Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.
Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade".
A saudade latente deixada transforma-se todos os dias em gratidão e lembranças recorrentes que o mantêm vivo na memória de quem tanto amou, afinal, o silêncio não combinava em nada com ele. Gostava de barulho, alegria e intensidade. Foi e eternamente será uma presença dotada de luz inigualável.
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A sobrinha Maria Gabriela se recorda: "Meu tio era um homem extremamente honesto, que fazia o impossível para que toda a sua família se sentisse feliz. Volta e meia, eu me lembro de chegar em sua casa e encontrá-lo assistindo à Missa ao Divino Pai Eterno, do seu orgulho por ser nordestino e do cuidado com que ordenhava suas vacas de leite. Ele nos deixou o ensinamento que mesmo nos momentos mais difíceis, devemos permanecer sorridentes e não nos abatermos diante dos percalços da vida. A saudade que sinto é tão grande quanto a gratidão pela oportunidade de ter convivido com alguém tão maravilhoso como ele".
Francisco nasceu em Tamboril (CE) e faleceu em Tamboril (CE), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta e pela sobrinha de Francisco, Iara Dias Matos de Araújo e Maria Gabriela de Araújo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Andressa Vieira, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Ana Macarini em 11 de abril de 2022.