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Genezia Rita da Silva

1934 - 2020

Aprendeu a nadar em açude, na infância sertaneja. Adulta, se encantou com o mar na Praia do Muro Alto.

Na infância e adolescência, sua vida transcorreu em um sítio no Sertão do Pajeú, onde convivia com a família grande. Tinha oito irmãos; abaixo dela, apenas a irmã caçula. No dia a dia, usufruía da companhia dos pais, tios, primos e primas. Adolescente, junto de irmãs e primas aprendeu o ofício que na idade adulta seria um reforço na renda familiar: corte e costura.

Foi na cidade natal que formou a base de sua personalidade. “Uma mulher forte, sertaneja arretada, que não se curvava diante de dificuldades e lutava muito para conquistar o que queria”, afirma a filha do meio, Carmen Patrícia.

Foi também em São José do Egito – cidade distante 404 quilômetros do Recife, conhecida como “berço imortal da poesia”, onde, conta uma lenda sertaneja, uma viola foi enterrada no leito do rio Pajeú e, desde então, quem bebe da água do rio vira poeta –, Genezia conheceu o futuro marido, Luiz, em 1962. Casaram-se em 1964 e foram passar a lua de mel em São Paulo, onde a filha mais velha, Rita, nasceu.

Em 1967, com saudades da terra e da família, voltaram a Pernambuco e se estabeleceram na capital, “graças a Deus”, exalta Patrícia, que nasceu em terras pernambucanas. No Recife, também nasceu outra paixão em Genezia: o carnaval. “Nós a levávamos para brincar o carnaval no Recife Antigo e em Olinda, onde gostava de acompanhar o bloco Elefantes de Olinda!”, conta a filha.

O casal teve três filhas: Rita, Patrícia e Simone. “Meu pai era taxista ativo e trabalhava todos os dias, minha mãe fazia as costuras para ajudar na renda. Era alfabetizada e dava muita importância à educação e, apesar de não ter feito universidade, conseguiu formar as três filhas: uma advogada, uma psicopedagoga e uma engenheira”, conta a filha. “Com o passar do tempo e as filhas formadas, deixou de costurar para os outros e ficou fazendo roupas só quando queríamos exclusividade. Excelente costureira... atenta aos acabamentos das roupas e muito exigente com a qualidade de seu trabalho.”

Além das filhas, Genezia teve outros amores incondicionais: os netos Hugo, Camila, Heloisa, Valentina e Maria Rita. “O sonho dela era ter mais um neto, que vai chegar em agosto de 2021, o Miguel”. Devota de Nossa Senhora, ela também amava as plantas, a natureza e o mar. Com a sensibilidade da terra natal e a alma sertaneja, costumava dizer que as plantas entendiam seus sentimentos. “Sempre que saía pra algum lugar que tinha plantas, dava um jeito de trazer uma mudinha pra plantar no minijardim da varanda de seu apartamento. Cuidava e falava com elas diariamente, e sempre dizia que sabiam o que ela estava sentindo”, conta Patrícia.

Sua última aquisição foi uma planta chamada rosa-do-deserto. “Passava horas a admirando e mostrava sua beleza a todos que chegassem à sua casa”, lembra a filha. Se as plantas tinham espaço especial em sua vida, o mar era lugar de repor as energias. “O mar! Ela amava nadar. E como nadava bem... Aprendeu no açude que tinha no sítio onde passou a infância. Quando íamos à Praia de Muro Alto, passava horas nadando nas piscinas naturais e voltava com a bateria recarregada, renovada.”

Do sertão ao litoral, Genezia trilhou uma vida de amor e orgulho. Cuidou de todos, sem nunca deixar de cuidar de si mesma. “Ela deixa um exemplo de vida para que nós sigamos nosso caminho buscando o que desejamos, sem jamais desistir”, resume Patrícia.

Genezia nasceu em São José do Egito (PE) e faleceu no Recife (PE), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Genezia, Carmem Patrícia Lindoso Leal. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 19 de maio de 2021.