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Geraldo de Magalhães

1927 - 2020

Cuidava da bela horta no quintal, onde fazia questão de plantar as ervas medicinais usadas pela companheira.

As mãos na terra foram uma constante na vida longeva de seu Geraldo. Trouxeram sustento e prazer. Nascido e criado na zona rural da pequena Barra Longa, acostumou-se com a lida na roça desde cedo. Pouco frequentou a escola, os estudos foram apenas até o quarto ano. O trabalho como agricultor, na fazenda Cachoeira, pertencente ao seu pai, durou décadas até que a aposentadoria finalmente o levou para Alvinópolis, a cidade vizinha.

Ali também não deixou de plantar. Cultivava uma grande horta no quintal de casa, que, além de ser distração para as horas vagas, abastecia com verduras frescas a grande família: seis filhos, doze netos e dez bisnetos. As ervas medicinais que dona Nena, sua companheira, frequentemente usava para quaisquer males que aparecessem tinham também seu lugar reservado nos canteiros caprichosos de seu Geraldo. “As ervas eram muitas, as filhas nem sabem os nomes! Mas ele cuidava de todas que a dona Nena pedia”, conta a amiga Suzana.

Já nonagenário, ele ainda nutria o vigor físico com caminhadas diárias nas ruas da pacata Alvinópolis. Eram três quilômetros de ida e outros três de volta. Mesmo quando a pandemia o obrigou a permanecer isolado, seu Geraldo escolheu andar 30 vezes ao redor da casa, todos os dias, para manter o hábito de se exercitar.
Sua vitalidade também era posta à prova nas pescarias que fazia com o neto mais novo, Heitor. Ficava tempo ali agachadinho ao lado do menino, na represa do sítio Água Limpa, à espera de uma fisgada. A diversão era garantida para a dupla.

Mineiro autêntico, apreciava um torresmo com pinga e, diariamente, ao longo de anos, tomava duas doses da cachaça favorita como aperitivo. Também dizia que comida boa tinha que fazer barulho na panela, com o chiado da fritura: "sem óleo não tem gosto", ele declarava.

Atleticano de carteirinha, gostava de sair para assistir aos jogos do Galo no bar local, reduto da torcida da camisa preta e branca. No cotidiano, não largava o radinho de pilha, em alto e bom som e sempre sintonizado na rádio Itatiaia, para ouvir “A hora do coroa”. O genro Pedro relembra com graça os muitos decibéis que reverberavam na casa de seu Geraldo e dona Nena: ele de um lado com o rádio e ela, de outro, com a tevê ligada no canal religioso.

A missa, aliás, era compromisso programado para os domingos, assim como as rezas do terço a cada dia. Era devoto de São Geraldo e Nossa Senhora das Graças. A religião inclusive foi o motivo do encontro do casal, já que eles se conheceram numa festa da igreja da cidade. Juntos ao longo de 66 anos, criaram José Ricardo, Rita, Ana Regina, Imaculada, Catarina e Caroline.

De riso manso, calmo e afetuoso, seu Geraldo brindou-se com uma vida plena e cheia de energia!

Geraldo nasceu em Barra Longa (MG) e faleceu em Alvinópolis (MG), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo genro e pela amiga de Geraldo, Pedro Figueiredo e Suzana Figueiredo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 5 de agosto de 2021.