Sobre o Inumeráveis

Geraldo de Souza

1935 - 2020

Apesar das dificuldades da vida, jamais deixou de amá-la intensamente.

Paula escreveu a seguinte homenagem ao avô:

"Se esse texto permitisse sons, eu o começaria assobiando. Era assim que meu avô Geraldo sempre se apresentava. De longe, era possível ouvir seu assobio ao chegar à nossa casa, e se assim não fosse, anunciava-se cantarolando uma de suas canções preferidas.

Nascido no interior paulista, numa família de 11 irmãos, levava uma vida simples, mas de muito amor. Aos 24 anos casou-se com minha avó Maria, com quem teve três filhos. A morte precoce do terceiro deixou marcas profundas em sua alma, mas isso não o impedia de olhar a vida com alegria. Trabalhou duro a vida toda. Era motorista e amava o que fazia. Dramatizava as histórias vivenciadas nas cidades onde passava, ora com espanto, ora satirizando situações. Transmitiu a paixão por esse ofício ao filho.

Homem enérgico e de grande coração. Toda essa energia às vezes era confundida com brabeza, mas a intenção era proteger a todos. Quando criança, eu pensava que ele tivesse inventado a palavra "barbaridade". Se discordava de algo, logo soltava um "mas que barbaridade!", indignado. Se via algo que lhe deixava feliz, dizia, gargalhando: "Barbaridade, viu!" Ou ainda, se lhe doessem as costas ao se levantar do sofá, ouvia-se um baixo e longo "Ooooo, bar-baridade!"

Sua felicidade era reunir a família em volta da mesa, com muita comida, afeto e cantoria. Nossas reuniões eram animadas ao som de seu violão e sua forte voz cantando sobre um tal bode de sutiã (acreditem! Não sei de onde ele tirava isso...) e improvisando rimas para agradar minha avó. Tinha grande paixão pela música e em churrasquear e jogar truco com os amigos e irmãos. Sua presença tão intensa era capaz de encher uma casa inteira, mesmo estando sozinho.

Muito devoto de Nossa Senhora Aparecida, juntava as mãos e fazia sua prece toda manhã, ao acordar. Depois da partida de minha avó, ele se firmou ainda mais em sua fé.

Muito apegado aos irmãos, tinha uma ligação especial com o caçula, Jair. Estavam sempre juntos. Tio Jair partiu vítima da covid também. Nosso grande Geraldo, sem suportar a dor da saudade, seguiu ao encontro dos seus, sob a bênção e a proteção de sua Santinha.

Mas que barbaridade será sua ausência, meu avô!"

-
O irmão de Geraldo também é homenageado neste memorial. Para conhecer sua história, busque por Jair Sebastião de Souza.

Geraldo nasceu em Cruz Alta (SP) e faleceu em Ibaiti (PR), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Geraldo, Paula Isabela de Souza. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 6 de janeiro de 2021.