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Gerson Luis Santos Diel

1959 - 2020

Nos pés o samba; no coração a alegria de participar do futebol e da solidariedade do grupo Matuzalem.

O nome de batismo acabou sendo quase esquecido: o alemão de cabelos encaracolados e sorriso largo era conhecido mesmo por Cheleu, apelido carinhoso adotado pelos amigos, sobretudo os do samba, do futebol e da vizinhança.

Passista de escola da samba, mais precisamente da Acadêmicos da Orgia e da Imperadores do Samba, ambas em Porto Alegre, Cheleu era um maravilhoso dançarino. "Tinha asas nos pés e alegria no coração!", lembra a esposa Jane. O gaúcho chegou a morar um tempo em Salvador - trabalhava como representante comercial. Teve também a oportunidade de desfilar por uma escola de samba da Vila Maria, bairro da zona norte de São Paulo.

Todos diziam que Cheleu e Jane eram almas gêmeas, tamanha era a afinidade do casal e a forma carinhosa e alegre com que se tratavam. "Tínhamos os mesmos pensamentos, na mesma hora, mesmo estando longe um do outro, e o mesmo modo de agir com as pessoas. Nos conhecíamos muito", conta Jane, emocionada.

Cheleu teve dois filhos: Yuri, fruto de um casamento anterior, e Junior, com Jane. No coração dele, junto com os dois filhos humanos, havia lugar para mais três filhas caninas: Nina - companheira querida de passeios -, Ritinha e Leila. O curioso é que justamente a Nina havia chegado à casa da família para ser "a cachorrinha do Junior". Só que ela escolheu Cheleu como dono, e na verdade quem era a dona era ela: dona do coração de Cheleu.

Dentre as muitas histórias pitorescas com Cheleu, Jane escolhe uma, que representa bem a alma livre do homem cheio de alegria e que tanta falta faz a amigos, vizinhos e familiares. "Ele era fã enlouquecido da atriz Vera Fischer, e contava que quando menino chegou a ser preso junto com os amigos por causa dela. Eles entraram no cinema - escondidos, pois eram menores de idade - para ver o filme 'A Super Fêmea'. De repente entrou a polícia. As luzes se acenderam e os menores foram pegos. E lá foi o Cheleu mais a sua turma toda para a delegacia. Chamaram os pais, que foram resgatá-lo, claro, mas a travessura rendeu trinta dias de castigo em casa. Ele contava que foi uma verdadeira prisão: em casa, só podia ir do quarto ao banheiro. Só saía para ir à escola, fiscalizado no caminho de ida e volta pelo pai."

Além do samba, era apaixonado por futebol e torcedor do Internacional. Faz enorme falta a Jane, aos filhos, amigos e parentes, e em especial aos companheiros do grupo Matuzalem, com quem compartilhava o futebol de campo aos sábados e domingos, o futsal de durante a semana, além dos lindos bailes de final de ano para arrecadar fundos de ajuda solidária a pessoas carentes.

Cheleu deve estar sambando nas nuvens com seus pés de anjo, de onde certamente olha pelos seus e acompanha todas as partidas de futebol do seu Colorado.

Gerson nasceu em Porto Alegre (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Gerson, Jane Rosa Escan Diel . Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Ana Macarini, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2021.