1943 - 2021
O homem de mil e um empregos era batalhador e amável, sempre teve fé na vida e nunca se rendeu às dificuldades.
Batalhador, nunca se conformou com a vida como ela é. Sempre soube que a vida é o que a gente faz dela.
Já fez de tudo nessa vida. Foi mascate, motorista, mecânico, pedreiro, carpinteiro, comerciante, fundidor, marmorista, fazendeiro, dono de posto de combustível e por último, administrou sua área para lazer na região do cerrado. Zelou por seu sítio - Vivenda da Serra - até o fim. Apesar de não ter muita escolaridade, nunca aceitou as dificuldades da vida e sempre nadou contra a maré, porque sabia que a nossa jornada, quem faz somos nós mesmos.
Foi um ótimo esposo, dividiu a vida durante muitos anos com a companheira que escolheu para si, e fez o possível para que o casamento fosse feliz. E foi muito! Era um marido comprometido, sempre atendendo aos pedidos da esposa e construindo o casamento com muito respeito e cumplicidade. Como homem da terra que era, sabia que o amor é como uma flor: não basta plantar a semente, é preciso cultivar todos os dias para que os frutos venham.
E vieram! A sementinha do amor plantado por Getúlio e a esposa produziu lindos frutos em forma de filhos e netos, a quem o homem de vários empregos teve a alegria de conhecer e amar. Foi um pai que, mesmo com seu jeito firme, nunca deixou de ser também muito amável, e fazia questão de todos ao seu redor. Um avô carinhoso e brincalhão, sempre brincava de aplicar vacinas imaginárias: "peraí que vou te dar uma vacina: kiuuu!", e contava inúmeras piadas. Nas viagens à praia que a família fazia, Getúlio colocava os CDs de piada que tinha para tocar no som do carro, sempre alegrando aqueles que amava. Tinha sempre, em algum bolso escondido, um chocolate para presentear os netos e também um pentinho que carregava com ele onde quer que fosse, adorava pegá-lo e dar aos netos para que penteassem os cabelos lisos e grisalhos do vovô babão.
Era um homem forte e ativo, de opinião formada e muito decidido. Meio tímido, não era muito de falar, mas muito de fazer. Tinha muitas atitudes. Foi para o mundo sem medo, sabia que, quando a gente se arrisca a viver, vale muito mais do que sonhar. Trazia consigo muita sabedoria e coragem. Saudável, amava chupar melancia gelada, mas não abria mão de um bom sorvetinho. Divertia-se com pequenas coisas como seus caça-palavras, com o que passava horas exercitando a mente e se distraindo.
O homem simples com coração imenso e coragem maior ainda, deixa saudade em todos que tiveram a oportunidade de conhecer e dividir um pouco da vida com ele. O escritor Guimarães Rosa disse que “o que a vida quer da gente é coragem” e foi o que Getúlio teve. Cumpriu sua missão como homem, avô, pai, esposo e amigo. Deixa grandes lições e uma jornada de amor e determinação muito admirada. Do outro lado, ele segue amando e admirando os seus com o jeito quieto e tímido de sempre, e enquanto o reencontro não vem, Getúlio segue descobrindo e ensaiando novas piadas, para arrancar as gargalhadas que ele tanto ama ouvir.
Getúlio nasceu em Porteirinha (MG) e faleceu em Porteirinha (MG), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Getúlio, Tom Oliveira e Telles. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 5 de abril de 2021.