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Gilberto Santos Medrado

1947 - 2020

Devoto do Bom Jesus da Lapa, ele caminhava todos os anos mais de mil quilômetros para adorá-lo.

Ele era conhecido pelo nome no diminutivo, Gilbertinho, porque apesar de ser uma pessoa saudável, era um tipo franzino.

Foi um homem que sempre amou a liberdade, os filhos e a sua querida mãe, que mesmo depois de falecida continuou sendo para ele um símbolo de proteção, e tão poderosa quanto a de seu Bom Jesus da Lapa. Solidário, caridoso, carinhoso, altruísta e cortês, gostava muito de viver e amava quando os filhos chegavam para visitá-lo. Era um ser humano cheio de luz que emanava alegria.

Em suas horas livres gostava de ficar jogando com os amigos na praça um jogo de baralho chamado Terno Vermelho, mas não gostava que os filhos participassem, porque dizia que não era bom eles aprenderem a jogar.

Era muito conhecido e querido onde morava e quando se foi, o bairro todo sentiu muita a sua falta e os moradores antigos custaram a acreditar que não o veriam nunca mais.

Gilbertinho teve uma relação amorosa com Vilma, mas foi casado com a costureira Hilda e com ela teve os filhos Gilza, Roberto e Luziana. Apesar de separados, viviam uma relação diferenciada, conforme conta Luziana: "Nenhum dos dois queria o divórcio. Meu pai dizia que o Bom Jesus abençoara a união deles com a chegada dos filhos e que não tinham por que se divorciar... Continuavam amigos e tinham uma relação de muito carinho e respeito. Se ele adoecia ela cuidava, lavava a sua roupa, fazia comida".

Uma data comemorativa marcante para a família era o Dia dos Pais. Ele não se importava muito com outras datas, mas ficava cheio de orgulho nessa; ligava para os amigos dizendo que não podia sair de casa porque era dia de estar com os filhos. Estes, por sua vez — com exceção da filha mais velha que morava em Brasília —, faziam de tudo para estar presentes nesse dia. Parece que ele sempre esperava essa data para falar do amor que sentia pelos filhos.

Ele foi o herói, o amigo e o defensor de Luziana, que carinhosamente recorda: "Para meu pai, o Dia dos Pais tinha um significado especial. Ele sabia que não deixaríamos de visitá-lo e aguardava ansioso pelo café da manhã, quando já estaríamos ao lado dele... Ele sabia que o café da manhã era comigo, o almoço era com meu irmão e, no final da tarde, estaria com os netos. Dedicava-se então a nos aguardar, assim como nós nos empenhávamos para estar com ele. Eu sempre achei que Dia dos Pais era o dia do meu pai!”

Devoto, ele ia todos os anos, como romeiro, à cidade de Bom Jesus da Lapa, percorrendo 1.230 quilômetros, num trajeto longo e cansativo. Ele amava aquele lugar e passava o ano programando e organizando-se para isso. Procurava sempre registrar a experiência com fotos, que hoje constituem o maior acervo de lembranças da família.

Conservou sua fé até o último contato com a família, quando pediu para beber a água benta que creditava ser milagrosa. Diz a filha: “Tenho certeza de que ele acreditou, assim como nós, que sairia daquela situação. Hoje nosso sentimento é de saudade”.

Gilberto nasceu em Itabuna (BA) e faleceu em Itabuna (BA), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Gilberto, Luziana Medrado. Este tributo foi apurado por Saory Miyakawa Morais, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 6 de setembro de 2021.