1930 - 2020
Carinhosa, generosa e de uma memória impecável. Das tantas aventuras, viajou até no tempo.
Ela foi aventura, depois um tanto mistério. Talvez por prematuros sonhos na juventude, depois por uma contemplação típica da maior idade.
A Dona Gigi foi um caso raro de viajante do tempo. De origem uruguaia, com 17 anos decidiu tentar a vida no Brasil. Giselda fugiu de casa, chegou na fronteira e mentiu. Foi onde a mágica aconteceu.
Na data de nascimento da nova documentação, consta o ano 1930 como o correto. Para conseguir trabalhar, ela abdicou de um ano de vida e conquistou a maioridade. O chato era ter que corrigir todo mundo quando cantavam os parabéns.
Em Porto Alegre, viveu até os 90 anos (na verdade, seriam 89). Era uma mulher religiosa, católica, que frequentava a missa toda semana. Quieta, caseira, teve 4 filhos, 16 netos e 21 bisnetos. Com memória impecável, agendas eram motivo de piada. Lembrava do aniversário de todos e sabia os números de telefone de cor.
Era vaidosa. Gostava de ir ao shopping. Lá, o cabelo cor de nuvem com frequência levava banhos de tinta. Adorava assistir ao programa do Silvio Santos e amava cozinhar. Uma receita famosa era a de bolinhos de batata.
Uma de suas netas, Nathália, só tem boas palavras e recordações sobre a avó. "Ela era uma pessoa muito carinhosa, muito generosa, sempre ajudando todo mundo. Ela se importava muito com a saúde de todos."
Hoje, vive em mais de quarenta corações.
Giselda nasceu em Santana do Livramento (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 90 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Giselda, Nathália Huffell. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Natan Magri Cauduro, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 22 de junho de 2020.