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Gustavo Henrique Maciel Laurindo

1994 - 2021

Ele gostava tanto de abraços, que o Senhor Jesus olhou para ele e disse: "Venha, agora sou eu quem vai te abraçar!"

Gustavo era alguém que todos queriam ter por perto. Era extremamente apegado aos pais, Élcio e Célia, e sempre procurava estar perto deles. Mantinha com toda a família uma relação leve e tranquila. Amava e era muito amado também pelo irmão, Thiago, pela sobrinha Kamylle — a Kaká —, além de ser o xodó de suas avós e tias.

Sua relação com a mãe era muito bonita, pois, além de filho, era seu melhor amigo e a auxiliava em diversas coisas, zelando por ela cotidianamente e demonstrando todo o seu amor em gestos singelos. Com o pai, mantinha um relacionamento de profundo respeito e admiração! Sempre que possível ele o visitava e ficavam conversando por horas a fio. Pedia conselhos e tinha a certeza de que sempre poderia contar com ele no que fosse preciso.

Gustavo conheceu Dariane por intermédio de seu pai e de uma irmã dela, que eram colegas de trabalho, e em 2019 tiveram a ideia de apresentá-los, inicialmente apenas por fotografias. Ela então tomou a iniciativa de enviar uma solicitação de amizade por uma rede social. Instantes depois ele aceitou o convite e começaram a conversar. Trocaram mensagens durante um mês e tornaram-se amigos que conversavam sobre tudo, desde os assuntos mais corriqueiros até os planos e sonhos. A cada dia que passava, um se tornava ainda mais interessante aos olhos do outro, até que, finalmente, ele decidiu convidá-la para sair.

Dariane conta, com saudade: “Nos conhecemos pessoalmente em um domingo, mais precisamente no dia 6 de outubro de 2019. Neste dia, fomos ao shopping, conversamos bastante, enquanto nossas mãos se mantinham entrelaçadas, até que, em um dado momento, ele me beijou. O rompante daquele beijo foi o estopim para termos a certeza de que estávamos apaixonados um pelo outro. Ao me levar para casa, começou a tocar a música 'Your Love', do The Outfield no som do carro. Ele então ele me fitou profundamente e disse que a letra daquela canção representava tudo o que ele estava sentindo naquele momento”.

Dias depois, viram-se novamente quando ele foi a uma consulta médica e aproveitou para lhe dar uma carona depois de um longo dia de trabalho. Depois, marcaram um novo encontro e desta vez jantaram, passearam um pouco e, finalmente, o pedido aconteceu de forma inusitada: com uma casquinha de sorvete nas mãos, ele a pediu em namoro. Com o coração repleto de amor e alegria ela prontamente aceitou, rindo um pouco pela maneira descontraída que ele encontrou para fazer isso. “Após esse episódio, eu já sabia que construiríamos uma bonita história, repleta de capítulos a serem contados. Por dois anos ficamos juntos, até a sua partida. Ele tornou-se também um filho para os meus pais, Vera e Dione, além de uma figura fraterna para os meus irmãos. Nós o estimávamos como se fosse da nossa família”, conta ela.

Dariane e Gustavo compartilhavam a paixão que tinham por animais, principalmente cachorros, e ela detalha essa paixão: “Gu tinha uma cachorrinha chamada Estrela. Quando a conheci, já era uma idosa, imagino que tivesse cerca de 12 anos. Todas as vezes que ele chegava em casa a Estrela ficava entre as pernas dele para pedir um cafuné. Muitas vezes presenciei a cadelinha entrando no quarto dele apenas para se deitar no tapete e sentir-se próxima ao seu humano favorito. Quando o Gustavo vinha até a minha casa, eu ficava derretida ao vê-lo sendo carinhoso e brincando com os meus cachorros, que já o reconheciam e até faziam festa quando ele chegava”.

Os dois tinham também suas diferenças: ele valorizava ao máximo os momentos ao lado de sua família e se contentava em partilhar com eles alguma refeição. Nos momentos livres, gostava de assistir a filmes e séries ou simplesmente ficar tranquilo para ver ou ouvir algo, privilegiando o sossego e o descanso. Já ela gostava de sair e passear! Então, na maioria das vezes, era ela quem o convencia a fazer outros programas como, por exemplo, levar os sobrinhos para ver as decorações de Natal da cidade ou ir ao parque nos domingos à tarde — convites que ele sempre recebia de bom grado.

Os dias frios e chuvosos eram os preferidos de Gustavo simplesmente porque sabia que poderiam assistir a filmes durante toda a tarde, sem sair de casa. Nos dias ensolarados, despendia o seu tempo nos cuidados com o carro, que mantinha sempre limpo por não gostar de vê-lo empoeirado.

Quando tinha um tempo livre, gostava de dirigir ouvindo músicas aleatórias, mas a batida eletrônica era do que mais gostava, tanto que em sua playlist recorrente, sempre estavam presentes Meduza, Topic ou Regard. Entretanto, quando saía junto com Dariane, tinha a delicadeza de deixar que ela escolhesse as músicas que ouviriam — um gesto que a encantava, principalmente quando ela percebia que, por sua influência, aprendeu a ouvir “suas” músicas, como as de Dua Lipa, por exemplo.

Aos finais de semana, habituou-se também a frequentar a Igreja, onde aprendeu diversos ensinamentos sobre Jesus e realizava sua reforma íntima. Dariane conta que, dentre as inúmeras histórias que construíram juntos, a que lhe traz a melhor lembrança refere-se ao dia em que ele resolveu se batizar, aceitando Jesus como seu único Senhor e Salvador.

“Tomou essa decisão por livre e espontânea vontade e, ao contá-la para a sua família, trouxe muita alegria, principalmente para a mãe dele. Na data de seu batismo, no dia 12 de setembro de 2020, houve um culto muito abençoado, com muita música, louvor, oração e almas sendo reconciliadas com Cristo. Dentre elas, a de Gustavo. Naquele momento, eu sabia que o Senhor tinha um plano em sua vida. Naquele momento, Gustavo também percebeu o quanto era amado por Deus e por toda a sua família. Os pais e a prima, Tati, estavam lá para prestigiá-lo juntamente com a minha família e um casal de amigos. Foi uma noite inesquecível! Após o batismo, ele abraçou a todos e eu percebi a paz de espírito em seu semblante.”

Dariane continua relatando suas lembranças com Gustavo: “Posso dizer que o meu dia a dia me traz infinitas recordações do Gustavo. Todas as vezes que escuto 'What Are You Waiting For', da banda canadense Nickelback, lembro que foi a primeira música que enviei a ele ao me dar conta de que estava apaixonada. Gustavo também gostava muito de 'Coração do Pai', da banda Central 3 e de 'Ao Primeiro Amor', do cantor gospel Fernandinho. Quando saíamos da igreja, me recordo de que essas eram a trilha sonora do seu carro e que foram também as canções que o fortaleciam enquanto esteve internado na UPA quando estava doente”.

“Gustavo amava abraçar. Certamente, as suas linguagens de amor eram 'toque físico' e 'tempo de qualidade'. Para todos que o conheceram, os abraços apertados fazem uma falta imensurável, já que era um modo de ele dizer 'Eu te amo'!"

Recordando suas preferências culinárias, Dariene diz: “O aroma da goiaba, a fruta favorita dele, também me faz rememorá-lo. Gustavo não comia nenhum tipo de salada. Cebola então, nem pensar. Gostava de hambúrgueres, pizzas e carne de frango, e nunca recusava um docinho, principalmente uma paçoquinha”.

Vaidoso, tinha o hábito de cortar frequentemente o cabelo e fazer a barba. Entretanto, para agradar a noiva, em boa parte do tempo ele mantinha sua barba, porque Dariene achava lindo. Ele utilizava dois perfumes que seguem trazendo memórias a Dariane: quando os sente, automaticamente ela se lembra das caminhadas, dos abraços apertados e do aconchego que ele lhe ofertava nos dias difíceis.

Apaixonado pelo Athletico Paranaense, era sócio do clube e sempre acompanhava os jogos no estádio com o pai. Gostava de comentar e fazer brincadeiras sobre futebol com o pai, com o irmão, com os amigos. Quando conheceu o sogro, os dois sempre falavam sobre futebol — tópico que fez o relacionamento entre eles se estreitar, mesmo o mesmo pai torcendo para o time rival, Coritiba.

Gustavo frequentemente dizia à noiva o quanto ansiava pelo casamento dos dois. Desejava o quanto antes reformar a casa em que morariam e pretendia terminar os estudos, buscar uma melhor colocação profissional e ter um cachorrinho da raça Pitbull cinza, de olhos azuis.

O casal tinha inúmeros planos: pretendiam viajar, comprar uma casa própria e também sonhavam em ter filhos. “Eu me recordo precisamente da voz dele dizendo, com um sorriso no rosto, que dali a alguns anos haveria um 'Gustavinho' ou uma 'Darianinha' correndo pela casa”, diz ela relembrando seus sonhos.

Gustavo trabalhava como Analista de Suporte e tinha bastante desenvoltura na área de Tecnologia da Informação. Por ser muito inteligente e possuir um raciocínio lógico muito elevado, sempre encontrava solução para diversos tipos de situações ou problemas. Iniciou a faculdade de Sistemas de Informação, cursou durante algum tempo, mas resolveu trancar a matrícula, com a ideia de retomar os estudos após seu casamento.

No seu último trabalho, em uma gráfica na cidade de Colombo, fez boas amizades com pessoas que tinham estima por ele e gostavam do seu jeito de ser. Em suas conversas com a noiva, gostava de contar histórias sobre sua rotina de trabalho e dizia que muito dos amigos da gráfica eram verdadeiros exemplos de vida. Deixou saudade em muitas pessoas que conviviam com ele diariamente.

Analisando a forma de ser do noivo, Dariane ressalta: “Por praticamente dois anos convivi grande parte do tempo com o Gustavo. Então, posso dizer que o seu jeito sério e, à primeira vista, fechado, me cativaram. Posso descrevê-lo como alguém na medida certa: escutava mais do que falava e mantinha-se sempre pensativo, sendo a parte racional do nosso relacionamento e me fazendo perceber a vida sob outra perspectiva”.

E fala dos aprendizados que teve com o relacionamento: “Gustavo trouxe incontáveis ensinamentos que somam a quem me tornei. Ao seu lado, aprendi o valor de um abraço e a gostar do conforto que este enlace nos proporciona. Com ele a vida tinha muito mais leveza, pude ser quem sou, na totalidade do meu eu. Acima de qualquer coisa, aprendi que, pela simplicidade, jorra um coração aberto para buscar e agradar a Deus. O encontro de Gustavo com Jesus não foi transformador apenas para ele, mas para todos à sua volta. Queria conhecer a Deus, tinha sede disso, então a sua sede e a sua fome de Deus foram saciadas”.

“Não posso deixar de repetir o quanto o Gustavo amava abraços. Quando ele faleceu, uma pessoa querida me disse algo que guardei em meu coração e nunca mais esquecerei: 'O Gustavo era tão fofinho, e gostava tanto de abraços, que o Senhor Jesus olhou para ele e disse: venha, agora você é meu'!"

Dariane conclui sua homenagem dizendo: “Gustavo faleceu pouco tempo antes de completar 27 anos. Era uma pessoa doce, sincera, com um potencial inigualável. Exercia os papéis de filho, noivo, tio e genro de maneira excelente, deixando um vazio muito grande em nossas vidas”.

“Em meu coração gravei a memória do Gustavo feliz, saudável e repleto de expectativas: o rapaz que usava aparelho nos dentes e que não via a hora de retirá-lo. O namorado que chegava com flores e doces nos dias em que eu precisava de carinho e conforto — além de sempre me surpreender com abraços apertados e demorados, com o cheiro perfumado de sua roupa e o beijo na testa ao fim de cada dia. Infelizmente, nossos sonhos se foram aqui nessa terra. Creio que hoje a vida que ele leva com o Senhor Jesus não se compara à que ele estava vivendo aqui, e sei que ele está curtindo muito. Faz muita falta o meu Gustavinho, mas as recordações e o amor que ele me dedicou permanecerão vivos eternamente em meu coração.”

Gustavo nasceu em Curitiba (PR) e faleceu em Campo Largo (PR), aos 26 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela noiva de Gustavo, Dariane de Oliveira Aleixo. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 3 de julho de 2023.