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Gustavo Procópio Cruz

1992 - 2021

A arte corria em suas veias. Quando estava compondo, parecia estar em oração, tamanha era sua emoção.

Gustavo chegou ao mundo demonstrando que seria uma pessoa especial e já chamando a atenção por sua grande estatura, peso e pelos fortes pulmões que tornavam o seu choro o mais alto do berçário.

E assim foi durante toda a sua vida que, mesmo não tendo como intenção fazer alarde, tocava de forma sensível quem teve o privilégio de conviver com ele. Gostava do anonimato e, mesmo assim, se tornou grandioso e está presente nas músicas que produziu e nas vozes que o fazem eterno.

Não tinha medo de fazer colocações políticas e exercia com maestria o seu papel de cidadão do mundo. Era emocionante vê-lo envolvido em seus trabalhos voluntários e nas aulas que ministrava no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), onde buscava com afinco resgatar a confiança dos alunos que, juntamente com a arte, eram sua prioridade.

Em seu estúdio, o Estátuas Móveis, dava gosto vê-lo dedilhando o violão, os solos da guitarra e do baixo e, às vezes, até o ousado toque do teclado. Compositor, quando estava compondo, ele se entregava pra emoção.

Gustavo era fiel a tudo, era fiel à vida. Não gostava da palavra “não” e só a dizia quando o “sim” atrapalharia a vida de quem estava pedindo ajuda. Ele era simples no falar e no vestir, mas incrivelmente nobre em seu viver.

Viveu como resume sua mãe Silvania: “Assim foi sua vida, intensa, coroada de amor ao próximo e aos menos favorecidos. Dedicava um amor imensurável à família e, à noiva, anos depois. Deixou-nos órfãos, seu pai, sua mãe, sua irmã, a noiva, os amigos, a família e todos os que o amavam. Sim, ficamos órfãos, porque ele era o protetor, o paizão, o amigão, um apaziguador. Sua ausência física dói o peito, dilacera a alma, mas por ele, vamos seguir o caminho.

Vamos seguir cantando e lembrando-nos dele em cada nota musical, em cada abraço forte, a cada sorriso farto e a cada sopro de vida. Gustavo era assim, uma avassaladora presença em meio à simplicidade".

Gustavo nasceu em Congonhas (MG) e faleceu em Congonhas (MG), aos 28 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela mãe de Gustavo, Silvania Aparecida Procópio Cruz. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 14 de maio de 2022.