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Heberton da Silva Lopes

1988 - 2021

Amava a família, a estrada e o mar, especialmente se acompanhado de um peixinho à tira-gosto e música sertaneja.

De origem grega, o nome Heberton significa "guerreiro glorioso", e assim foi em sua vida.

Nasceu numa cidadezinha mineira durante a primavera de 1988. Na infância, foi uma criança muito espoleta e feliz. Já adulto, quando encontrava com a prima Amanda, sempre recordava a história do dia em que destruíram os azulejos da casa de seu pai, jogando-os na rua, somente para fazer arte; e lembrava também de quando fugiam para pular poças de lama na chuva, jogar bola ou andar de bicicleta na praça, o que acontecia com frequência; ou ainda de como os dias pareciam infinitos quando eram crianças.

Na adolescência e início da juventude, já se mostrava seu lado galanteador e sempre apaixonado. Foram muitas as histórias ─ na maioria inventadas ─, e brincavam com ele dizendo que eram histórias de pescador. Foi nessa época que conheceu Ângela ─ o amor de sua vida ─ e juntos construíram uma família e geraram o pequeno Heitor.

Aos 19 anos, Heberton desenvolveu uma espécie de leucemia, necessitando de um transplante de medula óssea que pôde ser realizado a partir de uma doadora compatível dentro da própria família: a sua irmã Andressa.

Para ele, a família foi sempre muito importante e significativa, os irmãos eram muito conectados e, depois desse grande susto, Andressa e Heberton tornaram-se um só, parceiros para tudo. Silene (sua mãe), a irmã e a esposa Ângela eram as mulheres da sua vida. Dos homens de sua vida, além do filho Heitor, havia o irmão Wendel ─ que era bem diferente dele ─, mas que, exatamente por isso e por todas as suas características e conquistas, nutria pelo irmão uma imensa admiração. Já o pai, Bastião, como era carinhosamente chamado, foi seu grande herói e seu melhor amigo.

"Sempre fomos muito amigos e, como sou filha única, considerava meus primos como irmãos", conta Amanda. Quando crianças, os primos se encontravam nos meses de Maria e passavam juntos as férias de dezembro e janeiro; nos demais meses do ano, por viverem em estados diferentes, comunicavam-se por cartas escritas pelos pais. Quando ambos já estavam próximos da idade adulta, a distância física entre eles foi encurtada com a mudança de Amanda para Minas Gerais. Ela conta que Heberton "era um eterno menino, não no sentido de ser imaturo, mas pelo coração puro e generoso que possuía. Ele era amigo de todos, amava os pais, os irmãos, a esposa e o filho Heitor, assim como os tios e primos".

Bom de prosa, era um vendedor fantástico, um verdadeiro homem de negócios. Trabalhou com vendas de colchões e outros produtos e tinha lábia. Viajou por muitas cidades do Brasil, pois também era caminhoneiro como o pai; mas seu coração pertencia ao seu pedaço de chão, onde fazia de tudo um pouco: consertava bicicletas, motos, caminhões... tudo o que se movimentava, porque assim era sua personalidade ativa.

Devido aos trabalhos uma hora em cada canto, não via com frequência toda a família, mas quando se reuniam era uma festa só, como no Réveillon de 2019, que ficou marcado na memória de todos. Heberton era o xodó da tia, com suas sardinhas, cabelos pretos (bem pretinhos) e dentes de criança feliz, quando dizia "Bença, tia. Ô, tia", e ela se derretia toda, pois mesmo de barba, o eterno menino grande revelava sua doçura no olhar.

Era fascinado por caminhões, pela roça, por criação... Via milagre em tudo, sendo ele o próprio milagre, pois reza a lenda que certa vez, quando ainda muito jovem, enganou a morte deixando-a à espreita. Gostava também de praia, do mar, de uma gelada acompanhando um aperitivo de peixinho e de ouvir um bom sertanejo. Aproveitou a vida nas pequenas e grandes coisas.

Doce, generoso, belo, forte e corajoso foram características marcantes na vida do sempre querido e amado Heberton. Ele partiu jovem demais na visão das pessoas que ainda sonhavam compartilhar muitos anos da sua presença alegre e de seu sorriso marcante, mas está para sempre guardado nos corações de todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo e de toda sua família, que continuará contando suas histórias a fim de manter viva sua memória.

Heberton nasceu em Ervália (MG) e faleceu em Viçosa (MG), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela prima de Heberton, Amanda Lopes de Freitas. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Karina Zeferino, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2021.