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Hélvio José Mello

1942 - 2021

Foi pioneiro na Programação e Análise de Sistemas em sua cidade, muito antes de existirem cursos nessa área.

Durante a maior parte da vida ele foi um homem reservado, de pouco falar. "Até que um dia, de repente, ele se apropriou da palavra e se tornou um falante, que encantava a todos com suas histórias de vida", conta a filha Gianine.

E as palavras do Hélvio eram mágicas, pois narravam suas aventuras e desventuras de infância; revelavam as descobertas e incertezas da adolescência; davam conta de tudo que criou e desenvolveu — depois de adulto — ao longo de uma vida de trabalho; e descreviam as coisas que aprendeu a cada viagem que fez. Eram histórias "pra mais de metro", que mereciam ser contadas, e foram.

Hélvio era um desbravador, estava sempre na vanguarda de tudo: foi o primeiro filho, o primeiro neto. Era o xodó da mãe e dos avós e, provavelmente por isso, muito mimado por eles. Foi assim que aprendeu a ser carinhoso e atencioso. Na profissão, também foi um dos primeiros, sabendo muito de programação e análise de sistemas, mesmo antes de lançarem cursos de graduação nessa área.

Trabalhador, Hélvio se dividia entre dois empregos: durante o dia, atuava na computação e à noite, como professor do estado. Mesmo tendo essa rotina corrida, ele não deixava de sair para jogar bola, tomar uma cerveja ou um vinho, e ensinava a todos como levar uma vida equilibrada. Amava pescar, estar junto à natureza e perto do rio Jacuí, compartilhar das alegrias com os amigos e cozinhar: "Ele fazia o melhor risoto do mundo!", conta Gianine.

Hélvio nunca questionou as escolhas da filha e sempre a apoiou, até mesmo quando ela o surpreendeu com a notícia que ele iria ser avô. "Ele foi a figura paterna e o mimo da neta", diz Gianine.

Ele era cuidadoso e se preservou tanto na pandemia, que não saia de casa nem para cortar o cabelo, por medo de se infectar. "Ficou com um cabelão, branco e ondulado, com cachinhos nas pontas, que exibia todo orgulhoso...", lembra a filha, com saudade.

Hélvio nasceu em Júlio de Castilhos (RS) e faleceu em Santa Maria (RS), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Hélvio, Gianine Pivetta Mello. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 11 de agosto de 2021.