Hernan Enrique Ruedlinger Vega

1956 - 2020

Ensinou à filha, entre tantas coisas, o amor pela cozinha.

Chileno com alma brasileira, era uma pessoa suavemente doce, inteligente, bondoso e hábil. Quem conviveu com ele sabia de tudo isso. Trabalhava o dia todo, à noite ia ao mercado e depois fazia a janta. Habilidoso, presente, responsável. Cozinhava maravilhosamente bem e, por diversas vezes, quando a filha experimentava um prato novo, se deparava com algo que ele já havia feito mas não sabia no nome.

Com ele, a filha Cynthia teve a oportunidade de conhecer bastante sobre cozinha, mas uma receita em especial não teve tempo de aprender - um tipo de estrogonofe com legumes extremamente maravilhoso. Ele tinha o hábito de comprar comidas exóticas e a ensinou a apreciar aspargo, alcachofra, chá preto, gorgonzola, geléia (com sotaque jalea), pão pita, abacate na salada e outras coisinhas saborosas.

Quando ela era pequena, ia à escola com uma mochila e um estojo de couro que ele havia feito. Embora não fosse marceneiro, fez mesa, guarda-roupas, bancos e, por último, uma estante enorme.

Quando ela já morava sozinha, tinha duas faculdades e fazia
pós-gradução, ele soube que ela não havia ido à aula e ligou perguntando a razão. Não era cobrança, era estímulo e incentivo que ele sempre deu. Foi um defensor ferrenho da educação e sabia que o estudo possibilitaria uma vida mais leve, embora não tenha feito faculdade.

Uma pessoa tranquila e agradável de conviver. Pai e filha passavam horas conversando, falando sobre a família chilena, sobre política, filosofia, tomando um café ou um chá e fazendo um lanche.

Em janeiro eles tiveram uma conversa em que ele perguntou a ela: "Cynthia, o que tem do lado de lá?" Ela respondeu: "Pai, acho que haverá uma roda de conversa onde as pessoas debaterão sobre: - Olha o fulano tinha razão, é realmente desde jeito, sicrano estava errado." Ela diz não ter uma religião, mas gosta da ideia de que um dia o encontrar novamente.

Antes que o pai ficasse doente, a filha encomendou um teste de DNA para ele, que teve a oportunidade de ver o resultado: 39% indígena andino. Ela começou a chamá-lo de alemão falsificado! Oriente Médio, Reino Unido, Suíça e mais uma pitada de mundo.

Difícil ter palavras que traduzam o amor em sua imensidão. Saudades eternas.