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Idália Queiroz Romeiro de Souza

1946 - 2020

No quarar das roupas, entre uma tarefa e outra, por telefone, ela partilhava pedaços de amor com os seus.

Ela não conseguia passar despercebida, por onde andava chamava a atenção com seu jeito extrovertido e falante: nas feiras, supermercados, farmácias, igreja e até nos coletivos, era impossível resistir à simplicidade e calor que emanavam daquela voz, tão única e cativante. Mais que socializar, a dona Idália fazia amigos, conta a neta Loany.

Estava casada com Edson há 50 anos e, juntos, eles enfrentaram preconceitos racial e social: ela, mulher branca; ele, homem preto. Dona Idália tinha pouca instrução e, apesar de analfabeta, foi a lugares que muitos "letrados" (como ela dizia) não conseguiram ir, e se orgulhava de suas conquistas, Loany lembra. Ela e o marido também compartilharam a dor da perda de dois de seus cinco filhos.

Dona de casa e lavadeira, dona Idália era uma mulher forte, que se dedicava à família e aos amigos, e sua atenção e zelo se revelavam no amor que punha em tudo o que fazia: nos cuidados com a casa, nos pratos que preparava, e cujas receitas guardava carinhosamente no escaninho de sua memória afetiva que, de tão acessadas, se transformavam em movimentos inconscientes do ir e vir das mãos calejadas na goma do polvilho. Enquanto os pensamentos dela se perdiam nas outras tarefas do dia, o aroma que saía do forno dava conta aos habitantes da casa e seus visitantes, que era dia de “peta” e “quebrador”, algumas das delícias que dona Idália fazia.

A partida de dona Idália deixa um vazio. Ela, que foi tão importante na vida de todos com sua presença marcante e divertida, a mulher que adorava receber gente na casa que cheirava a biscoitos assando; dos aniversários surpresa que ela preparava, mas que de surpresa só tinha o nome; dos bordões que saiam de sua boca como: “vai caçar emprego!” Ou do dia em que desfilou, faceira, em seu vestido azul, levando nas mãos as alianças na cerimônia de casamento da neta Loany.

Dona Idália deixa o marido, amigos, os filhos Edilson, Edna e Kátia, a neta, e deixa saudade.

Idália nasceu em Wanderley (BA) e faleceu em Itumbiara (GO), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Idália, Loany queiroz rodrigues carvalho. Este tributo foi apurado por Daniel Ventura Damaceno, editado por Rosa Osana, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 17 de setembro de 2021.