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Ilvanita Ornelas da Costa Covre

1969 - 2021

Sorriso estampado de orelha a orelha, esbanjava humildade e fazia o bem, sem nunca dispensar um bom café temperado com canela.

Ilvanita era casada com Carlos André, conhecido popularmente como Carlito. O casal se conheceu ainda jovens, pois eram vizinhos de frente. No começo da paquera, tiveram a ajuda de Maria, irmã de Ilvanita, como cupido.

Ele, mais velho, tinha uma motocicleta e chamou-a para dar uma volta na garupa. Após esse primeiro convite, Maria constantemente incentivava a irmã a sair com o pretendente, dizendo: "Vai dar uma voltinha com ele! Ele é bonito, gente boa!".

Ela recusou algumas vezes, até que, certo dia, decidiu aceitar o convite. Deram umas voltas de moto e então aconteceu o primeiro beijo do casal. Depois desse dia, Ilvanita disse à irmã que não queria mais vê-lo e que não sairia mais com ele. Por dentro, porém, seu coração já era de Carlito: ela já estava apaixonada.

Os dois se encontraram mais algumas vezes para viver aquela paixão juvenil, porém foi somente cinco anos depois, em 1989, que realmente se comprometeram um com o outro e começaram a namorar. Ilvanita sempre brincava que o marido a tinha enrolado por onze anos.

Durante o casamento, ela foi uma esposa imensamente feliz, sendo parceira, fiel e cúmplice do marido, com quem viveu por mais de trinta anos. Tiveram três filhos: Carlos André Junior, Heitor e a caçula Dhara, que conta sobre Ilvanita: “Apesar de ser uma mãe rígida e controladora, fazia o possível e o impossível para nos ver felizes. Ela nos amou intensamente e dedicou-se a nós por completo”.

E acrescenta: “Ela era a felicidade em pessoa. Mesmo nos momentos mais desafiadores, tinha um sorriso de bondade estampado em seu rosto. Internamente, poderia até estar triste, mas não deixava que esse sentimento transparecesse em seu semblante. Costumava ser muito desbocada, característica que nos fazia dar gargalhadas e, hoje em dia, frequentemente nos faz rememorá-la. Volta e meia, ela dizia: 'Nossa! Estou cada dia melhor' ou 'Ilvanita, cada dia mais bonita'! Minha mãe era muito espirituosa...”

Ilvanita veio de uma família humilde e bem numerosa, que teve que lidar com a perda de seu patriarca muito cedo. Mudou-se de uma cidade muito pequena no interior de Minas Gerais para o Espírito Santo e, todos os anos, fazia questão de visitar sua mãe, Dona Ana, alimentando o sonho de levá-la para morar em sua nova cidade.

Aos 18 anos, logo que terminou os estudos, Ilvanita tornou-se professora. Durante o tempo em que lecionou na creche "Casinha Feliz", dedicou-se completamente aos alunos, construiu inúmeras amizades e criou laços incríveis. Ela contagiava a todos com sua alegria e era muito querida por todos.

Engraçada, prestativa, era o que se chama popularmente de “pau para toda obra”. Ela amava um café da tarde e, nestes momentos, não podia faltar o seu café sem açúcar, temperado com canela, além de biscoitinhos assados de queijo com aipim baiano. Quando se aposentou, passou a cuidar exclusivamente da casa e da família, embora tenha curtido bem pouco tempo essa nova fase da vida.

O almoço caseiro que ela fazia era algo dos deuses e deixou saudade! Por meio de suas mãos, verduras e saladas se tornavam divinas. Até o macarrão instantâneo que ela cozinhava era o melhor. Tinha por hábito inventar moda na cozinha — “reteté”, como ela costumava dizer.

Dhara conta do carinho de sua mãe com a comida: “Curiosamente, apesar de não comer peixes, ela preparava o melhor bacalhau da vida. Ela fazia, mas não experimentava. E quando me tornei vegetariana, ela fez questão de elaborar diversos pratos para mim”.

A filha também fala sobre lembranças marcantes de fatos vividos com a mãe: “Quando era criança, estava participando de uma competição de corrida e quando cheguei em primeiro lugar fui voando para os braços dela, que estava me esperando na linha de chegada.”

E continua: "Minha mãe era extremamente divertida! Meus irmãos e eu sempre recordamos de uma história que começa com um 'encontrei o filho de Quênia no supermercado', e que acabou por se tornar uma piada interna entre nós... será eternamente uma recordação só nossa"!

Dhara fala também das memórias ligadas à música: “As músicas que sempre me fazem lembrar dela são: 'Filme Triste', interpretada pelo Trio Esperança, e 'Êxtase', composta e cantada pelo Guilherme Arantes". Essa última canção, inclusive, diz muito sobre o amor e a saudade que ela deixou:

"Eu nem sonhava
Te amar desse jeito
Hoje nasceu novo sol
No meu peito
Quero acordar-te
Sentindo ao meu lado
Viver o êxtase de ser amado"

Dhara dá ênfase - de forma especial - à relação que Ilvanita tinha com sua sogra: “Minha mãe possuía um cuidado imenso com a minha outra avó, Dona Tina, mãe do meu pai. Dedicava-se a ela como se fosse sua própria mãe. Elas eram amigas, parceiras e confidentes a ponto de estarem sempre juntas no correr dos dias, tanto que minha avó sente muito a falta dela”.

Ilvanita nasceu em Comercinho (MG) e faleceu em Pinheiros (ES), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Ilvanita, Dhara Ornelas da Costa Covre. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 28 de fevereiro de 2023.