1944 - 2020
Os cantos do seu povo Guajajara eram sua paixão e ela orgulhava-se em os representar.
Lembrar de Tia Iracema é escutar o som de sua voz. Seus cantos tão admirados por todos eram a força de uma mulher indígena ecoando nos ouvidos e na alma de todos. Uma das primeiras cantoras de seu povo, chegava antes nos rituais e não ia embora antes de acabar. Para cantar, usava sempre a mesma pintura em seu corpo. Dizia que tradição era muito importante.
Vista como uma mestra da cultura Guajajara, seguia a risca todos os costumes de seu povo, questionava as mudanças e dizia para não esquecerem suas raízes. Como diz Célia Xacriabá, tradição é a grande raíz de uma árvore e a cultura são as folhas. Tia Iracema era a raíz do povo Guajajara, na aldeia Maçaranduba.
Com toda sua força, era mãe de todos. Cuidava de quem precisasse. Nos rituais de passagem de menina para mulher e de menino para homem, era ela quem preparava e fazia as pinturas nos corpos. Tia Iracema era a guardiã dos símbolos Guajajara. Guardava com ela também os segredos da floresta. Sua pajelança era forte, tinha conhecimentos sobre remédios e curas medicinais naturais.
Em Terra Cana Brava, os anciões e anciãs do povo Guajajara acreditam que quando um parente se vai, o espírito é levado pelo rio Mearim e desce até o mar. E quando sentem saudades, cantam pedindo para o rio trazer de volta seus amados para poderem vê-los uma vez mais.
"Vem, Tia Iracema, sobe o Rio. Vem cantar mais um pouquinho.
Se silenciarmos, fecharmos os olhos e nos imaginarmos lá no Maranhão, sentados na beira do rio, talvez o som de sua voz ecoe dentro de nós" reflete o sobrinho Magno. "Tia Iracema virou som."
Iracema nasceu Bom Jardim (MA) e faleceu Bom Jardim (MA), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Iracema, Magno. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriela Veiga, revisado por Lícia Zanol e moderado por Gabriela Veiga em 24 de junho de 2021.