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Isalém Nogueira de Camargos

1939 - 2020

Tinha educação ao tratar as pessoas com sua serenidade e calma.

Esta é uma carta aberta de Marcelo para o pai, Isalém:

É impressionante pai, tenho apenas boas memórias de você. Nenhuma, nem uma mínima memória negativa.

Sua passagem por este mundo aqui foi louvável, pai. Todas as pessoas que conheceram e conviveram com você, mesmo que minimamente, guardaram apenas boas lembranças. Da sua educação ao tratar as pessoas, da sua serenidade e calma, da sua competência profissional... para todos que falam comigo, a imagem que ficou é a de uma ótima e exemplar.

Pai, estou aqui, recordando muitas coisas... Aos meus 4 ou 5 anos, ajudei você a pintar a porteira da chácara que tivemos por pouco tempo na Cachoeirinha, aquela com um enorme bambuzal... Noutra vez, já com meus 7 ou 8 anos, quando, durante minhas férias escolares, acompanhei você em uma de suas viagens ao sul de Minas, a trabalho. Você conhecia esse pedaço do Brasil como a palma da mão, sabia de cor as distâncias entre cada uma das cidades, como um GPS.

Você me levou para Boa Esperança, Areado, Alterosa, Campos Gerais, Campo do Meio. Comemos peixe frito em um restaurante no lago de Furnas, perto de Areado. Lembro-me de uma ocasião quando eu, ainda muito pequeno, estava em sua companhia chupando laranjas serra d'água e mexericas. Chupávamos seis, sete, oito mexericas em uma sentada...

Jogamos muita sinuca no Jandyr. Jogamos nada! Eu só apanhava de você na sinuca. De todas as vezes que jogamos, uma está viva na minha memória. A primeira vez que jogamos depois que você se recuperou do infarto em 2015. Tenho fotos de você jogando nesse dia.

Meu grande parceiro cruzeirense, você é a pessoa com quem eu mais assisti aos jogos do Cruzeiro na TV. Dos infinitos jogos aos quais assistimos juntos, um é muito especial pra mim: a partida entre Cruzeiro e River Plate, na final da Supercopa Libertadores 1991. Assistimos à partida no sítio do Sr. Acir.

Fomos poucas vezes no Mineirão juntos, mas aquela partida contra o Grêmio, em 2013, é inesquecível. Juntamos com a galera, churrasco e truco antes do jogo e, depois, aquele memorável 3x0.

Pai, as saudades ficarão para sempre, assim como seu exemplo de vida. É claro que sua ausência aperta o coração, mas digo uma coisa: há um sentimento que está sendo capaz de diminuir muito a tristeza no meu coração ─ é a gratidão. Sou grato e me considero privilegiado por ter tido você como pai. De verdade. Quem o conheceu sabe os motivos que me fazem sentir assim, um privilegiado.

Seguimos juntos até o dia em que eu partir. Você continua vivo no meu coração e na minha memória.

Amo você, meu pai!

Isalém nasceu em Divinópolis (MG) e faleceu em Divinópolis (MG), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Isalém, Marcelo Nogueira Camargos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2021.