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Ivana Maria Martins Fernandes

1961 - 2020

Cabelos ondulados e iluminados, olhos expressivos e um coração que transbordava amor.

Era uma mulher de poucas palavras, mas esbanjava atitudes. Daquelas pessoas que visitam os pensamentos quando a vida aperta. Sem fazer alarme ou exagerar na bajulação, mostrava-se sempre disposta a contribuir para a felicidade alheia.

Apesar de portar no peito um coração nobre, imprimia gestos simples. Conseguia ser elegante vestindo calças jeans e uma blusa achada por acaso, no fundo da gaveta. “Era tão cheirosa que ainda consigo sentir o seu cheirinho se fechar os olhos”, diz a filha.

Gostava de passear no shopping com seu companheiro inseparável, Fernandes, com quem foi casada por trinta e seis anos. “Estamos engatinhando, porque caminhar era só com ela”, foi o que Fernandes respondeu quando alguém lhe perguntou como está a vida hoje, após a partida de Ivana.

Nas horas que corriam livres no relógio, gostava de brincar com os netos Gabriel, Benício, Paulo e Valentim, seus intocáveis.

Se dizem que avó é mãe com açúcar, Ivana veio com o açúcar dobrado. Chamava todos de príncipe, e não fazia distinção de nenhum, amava todos por igual.

“Infelizmente ela virou uma estrela. Mas sei que está num lugar melhor. Eu pedi a Deus que cuidasse bem dela e vou cumprir o que sempre prometi: estudar e me formar! Pra sempre eu irei te amar, vó!”, conversa com Ivana o neto de 10 anos, Gabrielzinho.

“Vó, eu sempre vou te amar e lembrar da senhora dizendo pra eu ser corajoso. Sei que a senhora está olhando por nós, cuidando de nós!”, complementa o neto Benício, de 8 anos.

Amiga leal que brigava com unhas e dentes para defender uma amizade. “Fez amigos de longa data até no trabalho. Mulher batalhadora como uma boa brasileira, contou trinta e nove anos no mesmo emprego. Lá, muitas pessoas disseram que ficaram órfãos. Porque ela era uma mãezona dentro e fora de casa”, relata, com dor e amor, a filha Jessica.

A filha Jordana, por sua vez, escreve como ela. Todos agora aprendem a lidar com o vazio da saudade. “Não há um só dia em que eu não pense nela, nos seus ensinamentos e em tudo o que ela sempre irá representar para nós. Agora estamos aprendendo a ressignificar a palavra saudade. Embora doa, temos que seguir em frente e tentar voltar a sorrir. Essa é a parte mais difícil. Penso que nunca nada será como antes, sempre me faltará algo, um pedaço, uma parte de mim”.

Ivana nasceu em Acaraú (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Ivana, Jessica Martins Fernandes e Jordana Martins Fernandes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júlia Palhardi, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.