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Izaneide Bentes Alvarenga Dias

1973 - 2021

Nasceu com dom para ser professora: quando ela ensinava, era impossível não aprender.

Existe uma infinidade de formas de começar a falar sobre a Izaneide. Nenhuma dessas, no entanto, faria jus à sua grandiosidade, muito embora, grandiosa é uma palavra que a descreve bem. Izaneide foi grande em tudo o que viveu, e em tudo o que se propôs a fazer. Em todos os ensinamentos que deixou por aqui enquanto trilhava seu caminho de luz.

Izaneide não se reduz a uma simples definição: foi uma menina levada, uma mulher forte, uma filha boa, uma mãe amiga, uma esposa companheira, uma avó presente e uma professora dedicada... Criada por mulheres batalhadoras, saiu à imagem e semelhança delas, e foi donde pôde criar seus três filhos com todo o amor, afeto e valores que foi ensinada a ter. Divertida e animada, Izaneide segurava o melhor da vida em suas mãos e fazia disso sua marca pessoal.

Sua história começa lá em Santarém, no Pará, estado onde ela nasceu. Em 1999, Izaneide passou em um concurso público em Itaituba, onde decidiu começar sua vida profissional, levando consigo pouca bagagem, seus três filhos e muitos sonhos. Formada em letras pela UFPA, deu aula de língua portuguesa, literatura, redação, artes e até inglês. Era ótima professora, que fazia de tudo pra estar perto dos seus alunos, ajudando, sendo amiga, sendo parceira e aprendendo com eles tanto quanto eles aprendiam com ela. Participava de todas as gincanas da escola, se esforçando ao máximo para ser sempre a campeã que ela nasceu pra ser. Deixou um legado muito grande na cidade de Itaituba, onde também foi sindicalista e lutou pelos direitos dessa classe. Sua partida deixou um vazio na educação da cidade.

Aliás, uma das lembranças preferidas de seus três filhos, Suellen, Samela e Júnior é justamente a mãe ensinando. Eles adoravam observá-la dando aulas, e tiveram a honra de ser ensinados por ela também, duas vezes: em casa e na escola, onde sua mãe fora a professora dos três nos anos do ensino médio.

A vida, no entanto, não foi tão fácil, pois nesse lugar novo, ela não tinha parentes que pudessem lhe estender a mão, mas apesar disso, não desistiu. Pelo contrário, foi destemida e mostrou que havia aprendido a se virar com quem já a havia ensinado tão bem: sua madrinha, e mãe de coração. Assim como ela teve todo o cuidado que precisou, queria transmitir aos filhos uma boa educação, e as melhores oportunidades de promissores futuros.

Izaneide foi para seus filhos mais que uma mãe, ela era alguém em quem eles tinham uma confidente. Era alguém que, mesmo que o mundo estivesse contra todos eles, estava ali para segurar cada uma de suas mãos. Ela os amparava, e conhecia cada um de seus olhares, cada palavra não dita. Os quatros tinham uma conexão inquebrável, inabalável, e estiveram ali, juntos, enfrentando todas as dificuldades e vivendo todas as alegrias que a vida estava entregando a eles.

Quando seu primeiro neto nasceu, ela descobriu-se a mais coruja das avós. Estava pronta para deixar que ele se tornasse tudo para ela, e mal podia esperar para lhe entregar todo o seu coração, do mesmo modo que fazia com seus três filhos. Com o passar dos anos, mais netos vieram para alegrar ainda mais a vida de Izaneide, fortalecendo-a como se fossem o seu próprio escudo contra o mundo.

Por falar em escudo contra o mundo, Izaneide foi tão graciosa em viver sua vida que não deixou nenhum âmbito de lado. Conheceu o grande amor de sua vida na escola, enquanto dava aulas à turma dele. Ali, naquela cidade tão nova para ela, funcionava a categoria de ensino chamada EJA — Educação de Jovens e Adultos. Essa modalidade era utilizada para aqueles que se atrasaram no ensino e precisam de uma oportunidade de retorno. Hoje em dia, ele também é um professor, e pôde viver com sua Izaneide durante 17 longos e felizes anos de suas vidas.

Izaneide foi uma força da natureza. Uma mulher que adorava livros sobre espiritualidade e ensinamentos de Deus. Que acreditava na fé, e que gostava de dedicar algum tempo a ler a bíblia e ouvir hinos. Aquela que também adorava novelas, principalmente essas que reprisam no canal viva. Amava ler ou ver um filme quando tinha um tempo livre. E era definitivamente viciada em jogos de celular, ou dominó. Fazia caça-palavras e enigmas com maestria e ainda gostava de ir no salão conversar com uma amiga, quando não estivesse conversando, é claro, com suas plantinhas.

Uma de suas coisas favoritas no mundo era tirar fotos com o celular. Qualquer momento, por qualquer motivo, era bom o suficiente para ser guardado por ela e compartilhado mais tarde no grupo da família. Lembranças as quais sua família se recordará sempre que olhar no WhatsApp e ver as fotos enviadas por sua caçulinha, e enquanto puderem revive-las, internamente, em seus corações e em sua própria saudade.

Izaneide foi alguém para ser lembrada, respeitada e amada. Alguém para se orgulhar, e se inspirar. Obrigada por ter existido, Izaneide. Você não imagina a falta que fará a este mundo.

Izaneide nasceu em Santarém (PA) e faleceu em Itaituba (PA), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Izaneide, Samela Karine Alvarenga de Sousa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Letícia Virgínia da Silva, revisado por Walker Barros Dantas Paniagua e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.