1929 - 2020
Neta de curandeiro, aprendeu com ele como curar certos males, com simpatias e receitas naturais.
Jandira passou a infância na roça, onde tomava banho de açudes, ajudava nas plantações, colaborava na produção de queijo e também auxiliava nos afazeres da casa. Não conheceu a mãe, porque esta morreu no parto, e foi sempre muito protegida pelos dois irmãos, filhos do primeiro casamento do pai. Quando este casou-se novamente, ela ganhou mais seis irmãos, três homens e três mulheres. Na adolescência, chegou a começar a fazer um curso de Enfermagem, mas não conseguiu concluir, pois o fato de morar na roça tornava tudo mais difícil.
Com seu companheiro, Idelfonso, viveu um romance semelhante aos de novela. Conheceram-se no interior, onde moravam, e apaixonaram-se. O pai de Jandira, entretanto, não aceitava o namoro, e eles fugiram, o que, naquela época, era comum de acontecer caso as famílias não aceitassem os relacionamentos. Casaram-se e foram morar no Rio de Janeiro quando ela ainda era muito jovem. O resultado desse amor foram quatro filhos e quatro filhas.
No Rio, ele trabalhava como mecânico de automóveis enquanto ela cuidava do lar e dos filhos. No fim da década de 1960, juntando uma graninha, voltaram para Campina Grande (PB), onde montaram um comércio e passaram a vender arroz, feijão e farinha, entre outros produtos, na feira central da cidade. O negócio não deu muito certo pela falta de tino comercial do marido. Para colaborar, Jandira fez um curso de corte e costura, tornando-se uma exímia costureira. Trabalhou muito, chegando até a passar muitas noites em claro para dar conta das encomendas das freguesas. Foi com essa atividade profissional que criou os seus filhos.
Seu marido faleceu vinte e oito anos antes dela, mas, como era uma pessoa muito alegre, Jandira nunca foi de ficar cultivando a tristeza. Procurava manter a casa sempre cheia de pessoas nos finais de semana com os filhos, os genros, as noras e os netos. Ela fazia questão de que todos comessem a galinha que ela fazia temperada com seu amor - e que era sempre uma delícia.
Aliás, falou em festa, era com ela mesmo, fosse para se divertir, fosse para ganhar dinheiro. Gostava das festas natalinas e juninas, pois a demanda por seus trabalhos aumentava. Também adorava se divertir dançando e apreciando as comidas típicas servidas tanto nas festinhas de interior como no Maior São João do Mundo, que acontece em Campina Grande (PB).
Uma curiosidade familiar interessante é que o avô de Jandira era o curandeiro, o Xamã da região, a quem as pessoas recorriam para serem tratadas com ervas, cristais e rezas se adoecessem ou fossem picadas por uma cobra. Um dos netos de Jandira, mesmo sem ter conhecido o bisavô, tornou-se um Xamã dos tempos modernos, atuando como terapeuta, acupunturista e reikiano e realizando curas reconectivas e outras práticas similares.
Embora não tenha herdado essa habilidade de seu avô, Jandira também conhecia algumas receitas para curar certos males. Aguinaldo, seu neto, recorda-se de algumas “simpatias” que ela sabia fazer: “Quando a gente era pequeno e ficava gritando ou tinha muita tosse, ela fazia um lambedor com bastantes ervas (que perfumavam toda a casa durante seu cozimento), e, como consequência do remédio, melhorávamos, pois era como se limpasse nossos pulmões".
Jandira, conhecida por todos como Dira, morou sozinha até os 87 anos. Desde sempre e até o final da vida, foi uma mulher independente, lúcida e ativa.
Jandira nasceu em Galante (PB) e faleceu em Campina Grande (PB), aos 90 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Jandira, Aguinaldo Tavares de Brito. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 29 de julho de 2021.