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João Batista da Cunha

1942 - 2020

Suas maiores qualidades foram a bondade discreta e o orgulho pelos filhos corajosos e destemidos que criou.

João Batista da Cunha era conhecido como João Cândido. Um homem alegre, extrovertido e sorridente que cumprimentava os conhecidos e os desconhecidos também.

Foi casado uma só vez, com Bernadete, mãe de seus filhos Heroliza, Marcos Antônio, Joel, Cida, Inês, Elaine, Cecília, Amanda e Cândida. Teve cinco irmãos, nove filhos 13 netos e um bisneto. Quando se separou da esposa, continuou morando por perto, pois amava ver a família reunida e, quando isso acontecia, dizia que seu jardim estava completo.

Adorava ficar conversando com eles, de preferência sentado na calçada. Quando seus filhos iam visitá-lo nos finais de semana ou feriados, em Acaraú, ele os aguardava sentado em uma cadeira vermelha, debaixo de uma árvore esperando pelo momento de abençoá-los.

Amava a vida, os irmãos, filhos, genros, noras e netos. Também era muito amado por eles. Quando estes chegavam, ele beijava a cabeça das filhas e netos, cumprimentava os genros e ficava observando enquanto retiravam toda a bagagem do carro. Era sempre assim que ele os recebia!

Era vigilante noturno numa emissora de rádio e tinha uma turminha de amigos que, em todas as noites de trabalho, se reunia na calçada para conversar.

Apreciava ouvir música e não se importava com o tipo, ouvia do brega ao gospel. Possuía verdadeira paixão por rádio e também por ir às feirinhas para procurar algo diferente, e sempre voltava da feira com alguma novidade nas mãos.

Seu prato preferido era peixe e sua bebida predileta, suco. Mas havia uma exigência: o peixe podia ser qualquer um, desde que tivesse sido pescado no mar, ou seja, “só não podia ser de água doce”, como ele frisava.

Sua maior qualidade era também seu maior defeito: ser muito bom para os outros, mesmo que isso significasse dar tudo o que possuía. Não porque queria se exibir, mas por amor ao próximo. Tirava a própria roupa do corpo para vestir alguém que precisasse mais que ele.

Como melhor pai do mundo foi amoroso e carinhoso ao extremo. Educou e ensinou os filhos a respeitar e amar o próximo e, diferentemente da maioria das vítimas que falecem por Covid-19, João Cândido teve tempo de se despedir ─ por meio de um áudio ─ com palavras de amor pela família e gratidão à ex-esposa pela família que constituíram juntos.

Com sua partida, seus filhos vivem a saudade desse herói amoroso que deles tanto se orgulhava ao vê-los enfrentando a vida com coragem e destemor, sem abaixar a cabeça ou esmorecer diante de nada, ou de ninguém.

João nasceu em Acaraú (CE) e faleceu em Acaraú (CE), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Maria Inês da Cunha Andrade. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de dezembro de 2020.