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João Carlos Dalben

1958 - 2021

Dava dicas preciosas, explicando o passo a passo de seus métodos e técnicas com palavras e gestos peculiares.

Ele era uma pessoa muito presente na vida de todos da família. Era seu desejo manter por perto as pessoas a quem amava. Em seu modo de pensar, havia sempre um jeito de todos ficarem juntos, de preferência morando juntinhos e misturados.

Tinha ideias mirabolantes, algumas delas até "meio doidas", que de repente eram compartilhadas à mesa nos almoços de domingo. E quando, nessas ocasiões alegres, João divulgava a tal da ideia, ele próprio não conseguia segurar uma risada que era só dele. "Meu tio possuía uma risada singular e que todos conheciam. Às vezes, a gente entendia a complexidade da ideia e ria junto. Outras vezes, a gente só ria mesmo, porque no fundo todo mundo sabia que não era sério", diz a sobrinha Adrielly.

Gostava de conversar e sempre tinha uma história interessante para contar. Não importava se era história antiga ou mais recente. Qualquer um que eventualmente se sentasse a seu lado, jamais experimentaria tédio, ele não deixava o seu interlocutor sem assunto. É importante mencionar aqui o modo engraçado dele contar alguma piada: já começava a rir, antes mesmo de contá-la. E todos ao seu redor riam só de observar ele rindo, nem era da piada em si que as pessoas riam.

Ele era também o rei das dicas e sempre tinha receita para tudo: "'Sabe essa plantinha aqui? Você precisa pegar o tronco dela... daí você corta na diagonal assim', ele dizia, demonstrando com as mãos, 'depois você precisa colocar ela num copo d'água pra nascer as raízes. Deixa lá uma semana; depois, você pega e coloca aqui na terra. Água dia sim, dia não. Olha aí, que coisa linda que tá'", recorda Adrielly que é, também, afilhada de João.

Possuía uma técnica para melhorar o sabor e a maciez da carne no churrasco: "'Essa carne aqui ó, você precisa pegar, coloca sal, coloca os temperinhos' e encenava no ar o movimento de jogar os temperos na carne. 'Aí, você vai pegar o papel alumínio e vai dar umas três voltas em volta da carne' — e demostrava com as mãos como é que se enrola — 'depois, você vai colocar perto aqui do fogo. Vem ver aqui como que eu fiz. Deixa duas horas de um lado, duas horas de outro. Olha aí, desmancha!'" Era desse jeito, conta Adrielly.

Todas as vezes em que estavam reunidos em família e era chegado o momento de tirar fotos, de duas, uma: ou era João quem tirava para o grupo, ou ele estava lá em meio as pessoas para aparecer na foto. Sobretudo nesses instantes, o bom humor dele aflorava. Ao convocar as mulheres da família para a sessão de fotos, ele dizia assim: "Junta aqui, mulherada! Vamos tirar umas fotos das meninas aqui". Quando tudo estava pronto para o clique, as pessoas notavam a presença furtiva de João bem lá no meio da cena!

Outra característica marcante dele era ser sempre o primeiro a comer. Não havia exceção: toda vez ele era o primeiro a sentar-se à mesa. Não tinha paciência, já começava a beliscar o alimento que estivesse disponível. Levava algumas broncas de sua esposa por causa dessa atitude, mas ria do jeito dela, brava com ele.

Adrielly despede-se de seu tio João:

"Para finalizar, quero desafiar a todos que 'te' conheceram, a cruzar com qualquer Saveiro na rua sem se lembrar de 'ti'. Até em São Paulo, quando eu via um carro dessa marca, pensava: 'Olha lá o tio João!'

Aposto que, ao ler esta homenagem, todo mundo que conheceu você poderá imaginar as cenas que éramos acostumados a vivenciar com a sua presença. Daí a gente começa a tentar entender a brevidade dessa vida. E num piscar de olhos, a gente sem nem conseguir assimilar isso tudo que aconteceu, precisa agora tentar conviver com a sua ausência. E dói... Sua partida dói.

Apesar de sua falta, todas essas e outras amáveis características suas ficarão guardadas na memória de cada um de nós que conviveu com você. Eu queria poder descrever muito mais de tudo que você foi e representou. Não vou conseguir.

Desejo que seu descanso seja coberto de paz e tranquilidade. Por aqui, ficaremos com a saudade. Obrigada pela dádiva de compartilhar sua jornada conosco.

Com amor, Dri."

João nasceu em Votuporanga (SP) e faleceu em Votuporanga (SP), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha e afilhada de João, Adrielly Cristina Canolla. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ricardo Henrique Ferreira , revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.