1989 - 2021
Por todos os cantos do bairro Biquinha, onde nasceu, havia referências de sua arte.
“O amor que eu tenho guardado no peito
Me faz ser alegre, sofrido e carente
Ah! Como eu amei”
Benito de Paula
De autoria de seu compositor e cantor favorito, este era o hino entoado por João Vitor na defesa do amor. Seja como filho, irmão, neto, sobrinho, primo ou amigo, amou e foi amado por todos, deixando uma marca singular em cada um que cruzou seu caminho. Segundo o primo e afilhado João Gilberto, “seus amigos eram de todas as idades, todos os gêneros, todas as religiões e de todos os lugares. Cada um foi carimbado pelo amor de João Vitor”.
Filho de Maria Aparecida, a Cidinha, e Alencar Felisberto, o Cazinho, João Vitor era o filho do meio, irmão de Phelipe, o mais velho e Maristella, a mais nova. Nesse meio da família nuclear ou estendida, era considerado o “esteio”. “Nossos avós tiveram dez filhos e sempre nos ensinaram sobre a união, a fraternidade e a doação. João Vitor era quem mais bem pregava o legado de nossos avós”, afirma o primo.
Além desse legado, os valores anunciados por João Vitor estavam intimamente relacionados à sua prática religiosa e aos seus ideais sociais. Era católico praticante, devoto de Nossa Senhora e militante “de esquerda”, conforme o caracteriza João Gilberto: “consciente e firme de seus ideais políticos, nunca se apegou a luxo e bens materiais”.
Graças ao ProUni, Programa Universidade para Todos, João Vitor havia se formado recentemente em Arquitetura. Entretanto, antes de se formar, já era um artista, um amante da Arte, enxergando-a e cultivando-a em todos os espaços de sua amada Biquinha, Bairro em que nasceu, foi criado e de onde nunca perdeu suas raízes. Desenhava, escrevia, cantava e apreciava boas músicas nos seus discos de vinil. Adornava carros alegóricos carnavalescos e altares da Igreja, como arquiteto, realizou-se com a reforma da Capela da Paróquia de São José Operário, no Município de Três Rios.
“Porque eu saio de Valença, mas Valença não sai de mim:
volto a suas ruas tortas e praças úmidas em meus sonhos;
aí me resfria seu típico ar da madrugada, aí contemplo
casas feias e cativantes deselegâncias,
aí se acumulam, quase palpáveis,
meus risos, minhas tristezas,
minhas vitórias, minhas derrotas,
meus amores,
minhas aventuras, minhas antipatias,
meus acertos, meus erros.
E ela o espaço que sou, e apenas longe de seus limites é que o sei.
Em suas ruas me recordo e me esqueço;
aí sou parte de algo que já agonizava antes de mim,
e que continuará a sofrer até muito depois de eu me ir,
repousando, talvez, em seu chão escuro.”
João Vitor Nogueira Felisberto.
Embora jovem, João Vitor reconhecia o valor da construção histórica e, com talento, recuperava o passado no presente, conquistando a todos com suas ligações históricas e poéticas.
Gostava de apreciar uma cerveja e cozinhar - “cozinhava muito bem”. “Enjoado para comida, tinha que ser do jeito dele”, recorda com alegria o primo e afilhado. “Lembro-me de ter pedido para ele cozinhar uma feijoada no meu aniversário na roça. Ele, como bom padrinho, prontamente se dispôs e fez”.
Apesar da certeza da família de que João Vitor esteja feliz no Céu, aqui o vazio deixado por ele ainda dói. O conforto vem do Céu, com a união da família em oração em sua intenção, do carinho e das homenagens terrenas: foi criada uma travessa no Bairro onde ele morava denominada “Travessa Arquiteto João Vitor Nogueira Felisberto”. Justas homenagens e amores para quem caminhou escutando, cantando, escrevendo e desenhando o amor.
“[...] Sou verso,
sou terra, sou sol
sentimento aberto
Ah! Como eu amei”
Benito de Paula
João nasceu em Valença (RJ) e faleceu em Valença (RJ), aos 31 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo primo e afilhado de João, João Gilberto Higino da Silva Nogueira. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Denise Stefanoni, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.