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Jorciene Ferreira de Queiroz

1979 - 2021

Diariamente, alinhavava roupas e relacionamentos com paciência, dedicação e fé.

"A melhor cozinheira do mundo era minha mãe e eu posso provar", desafia Thatilla, filha da goiana Jorciene. "Aquele macarrão na chapa, aquela panelinha... Nossa, o frango assado com batatas, com toda certeza, era o melhor do planeta e ninguém nunca vai fazer igual", garante.

A gastronomia não era o única habilidade da mãe Jorciene. Cerzia, pregueava, chuleava, moldava, recortava tecidos tanto, tanto, que apreciava o silêncio do fim da jornada de trabalho como costureira. "Mamãe era estressada, dizia que as máquinas faziam barulho na cabeça dela o dia todo", conta Thatilla.

Apesar da profissão demandante, Jorciene carregava sempre no rosto um sorriso, segundo a filha, "magnífico". Para relaxar após mais um dia de costuras, deitava-se no sofá e assistia às suas novelas ou jogava "candycrush" no celular. Assim, equilibrava a rotina de mãe de duas filhas, esposa e sogra de dois genros.

Jorciene também era um porto seguro para a própria mãe, seus quatro irmãos, quatro sobrinhos e duas cunhadas. "Ficamos como uma difícil missão aqui na terra: seguir sem ter ela aqui pra dar seus conselhos, suas risadas que encantavam qualquer um. Toda a família a amava verdadeiramente e um montão de amigos e conhecidos sofrem com a partida tão repentina dela", lamenta Thatilla.

Aguerrida, Jorciene não baixava a cabeça diante dos desafios no meio do caminho. Sua fé era inabalável. "Mamãe sorriu quando o coração chorava; lutou quando não tinha mais forças e se doou sem medida, independentemente de tudo e de todos", revela a filha.

Natural da pequena cidade de Uruana, capital goiana da melancia, Jorciene tinha o coração grande e vermelho como a fruta. A filha afirma que a mãe amolecia todos com sua ternura e com a sua paciência, além de não guardar mágoa de ninguém: "Ela foi uma verdadeira guerreira na vida. Uma alma forte, justa e amorosa. Minha mãe foi a mulher mais linda que já conheci. Foi amiga, conforto e alegria para quem teve o privilégio de conviver com ela; inspiração e orgulho. Guardo na memória o seu carinho, as suas palavras e o seu imenso amor".

Jorciene nasceu em Uruana (GO) e faleceu em Uruaçu (GO), aos 41 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Jorciene, Thatilla Jeffita Queiroz de Paula. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Luciana Assunção, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 13 de outubro de 2021.