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José Alves de Sousa

1942 - 2020

Gostava de jogar baralho e dominó com os amigos e netos.

Ele amava contar estórias. De todo tipo e para todos os gostos. E como era bom ouvi-lo! Tamanha era a habilidade que ele tinha de narrar situações e enredos — e tão bem elaborados eles eram — que ficava difícil, aos ouvintes, capturados pela prosa fluente, identificar o quanto havia de real naquelas narrativas ou se eram apenas causos. Sim, porque o José amava uma pescaria e o que não faltava no seu rico repertório era uma boa história de pescador, conta a sobrinha Cléia. Muitas vezes ele até se repetia, mas sempre encantava, porque a cada estória ele acrescentava um detalhe a mais, e tudo voltava a ser novo e inédito.

O Mineiro, como ele era carinhosamente chamado, além da habilidade com as palavras, já havia feito de um tudo nessa vida: trabalhou como vigia, foi agricultor (dos bons), cortador de cana, servente de pedreiro. Nessa sua lida, morou em Brasília e em várias outras cidades de Minas Gerais — sua terra natal —, do Paraná e, por último, de Goiás. Por onde passava, José fazia amigos e colecionava histórias de vida. E foram muitas!

Era um homem apaixonado por tudo o que fazia na vida e por cada pessoa que fazia parte dela. E entre tantas qualidades, o que José tinha de especial era a humildade e a forma como repercutia suas origens, o povo e a vida na roça. Gostava demais de frango caipira com angu e quiabo. E o seu café? "Ah! Fazia um café como ninguém! No ponto: nem forte, nem fraco; nem amargo, nem doce demais", conta a sobrinha Cléia.

Mas quem se beneficiava mesmo do café do José era sua filha Jerlete, que morava com ele. Tinha muito apego pela família, sua maior paixão. José foi casado com a Vicentina, já falecida, e era pai de quatro meninas: Lourdinha, Jerlete, Luciene e Maria Aparecida. Sua relação com as filhas era de muito amor, carinho e respeito.

Com a esposa, compartilhou da humildade e do amor pela família, bem como do gosto pela pescaria e pela agricultura. Gostavam de cuidar da roça e das criações, como eles mesmos diziam, e sempre foram muito companheiros e trabalhadores, deixando um legado lindo e de muito orgulho.

Os momentos em família eram sempre divertidos: muita conversa, risadas, mesa farta de comidas deliciosas. Também gostava de passar o tempo jogando baralho e dominó com os amigos e com os netos: Tales, Micael, Juninho, Michelle, Ana Cláudia, Celeste, João Pedro e Paulinha.

Mineiro fará muita falta às filhas, aos netos e à toda família. Fará falta também aos amigos, que hão de lembrar das partidas disputadas na calçada, embaixo de uma árvore, entre uma e outra “mão” de baralho; e dos causos e da alegria de um homem gentil e doce, que soube viver.

José nasceu em Varzelândia (MG) e faleceu em Jaraguá (GO), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de José, Cléia de Souza França Furtado. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2021.