1942 - 2020
Vô Tatu, como era chamado, irradiava carisma e estava sempre presente. Uma pessoa única e insubstituível.
Esta é uma carta aberta de Cristiane para seu avô, José Benedito, o Vô Tuca:
Um homem incrível, nasceu de uma família simples, sem pai, nem sobrenome te deram. Ainda criança, foi mandado para viver com seu tio em Itapetininga, no interior de São Paulo. Logo cresceu e começou a trabalhar como caminhoneiro, viajando por todos os estados do Brasil, tornando-se um excelente motorista, conhecendo todas as estradas.
Casou com minha avó e foi um ótimo pai para os cinco filhos. Tornou-se um exemplo de marido e pai, construiu sua família de uma forma simples, mas com muito amor, sendo ele inteligente, amigo, divertido, carismático, prestativo e trabalhador ─ todas essas qualidades no superlativo. Dava carona para quem precisava, sempre cabeça aberta, atualizado e com um enorme conhecimento sobre tudo.
Um homem muito religioso também, fazia parte do Terço dos Homens e rezava por toda a família. Quando se tornou avô, logo se aposentou e aproveitou a vida com a família, ficando cada dia mais amoroso. Contava histórias para os nove netos e colocava cada um na sua barriga quando éramos bebês.
Sempre andava com a chavinha pendurada no short e com sacolinhas nos bolsos, sempre bem simples.
Em cada festa, era o primeiro a ficar pronto, reclama com minha avó pela demora em se aprontar, pois queria ser o primeiro a chegar; fazia piadas e graça com todos. Era campeão de truco, ensinou todos os familiares a jogar, sempre dançava quando bebia muito e alegrava todos nas festas, cada cerveja que acabava era um grito de todos "Vai Tatu!", era de lei.
A única pessoa de quem reclamava era da minha avó, com quem ficou casado por cinquenta e três anos. Um reclamava do outro, mas nunca se desgrudavam. Reclamava também do seu time do coração, o São Paulo, e ai de quem entrasse na frente da TV na hora do jogo ─ ele ficava louco de bravo.
Aconselhava cada neto de um jeito, no meu caso, falava "Estude, Cris, não case, gosta da sua liberdade? Então, não case". Sempre foi grato pela minha avó, pela família que construiu com ela. No último aniversário de casamento deles, ele disse para ela "muito obrigado", eles se amavam e cuidavam um do outro, do jeitinho deles. Pode parecer que ele era reclamão, mas, na verdade, era bastante otimista e alegre, falava para os conhecidos “Eaê, tudo em riba?”. Nas fotos, sempre fazia um "joinha" com o dedo, até quando foi operado, porque, apesar de tudo, estava tudo bem.
Ele usava uma camisa xadrez, na cor verde, para eventos especiais, como as formaturas dos netos ─ um evento importante ─, e foi a última camisa que ele usou, quando foi internado.
Foi nossa primeira perda na família, está difícil de compreender, estamos pensando que ele ganhou na loteria, comprou um caminhão e foi dirigir pelas estradas, estradas com paisagens maravilhosas, sem dor e sofrimento.
Meu avô sempre foi um exemplo de força, bondade, carinho, simplicidade, carisma e amor, fazia de tudo pelos filhos, netos e pelas pessoas que pediam favores a ele. Sei que vai continuar nos acompanhando, intercedendo e mandando bênçãos.
Mais uma vítima da Covid-19! Só que essa, essa foi minha maior ferida. Um buraco na nossa família que ninguém irá substituir. Que honra de ter um vozão como o senhor, ter um pouco do que você foi. Bença, vô. Descanse em paz.
José nasceu em Paranapanema (SP) e faleceu em Itapetininga (SP), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de José, Cristiane Vieira Albino. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 20 de janeiro de 2021.