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José Carlos Praxedes de Andrade

1957 - 2022

Aguardava a chegada dos filhos na esquina de casa, com sua habitual camisa branca de mangas verdes.

Mirando, como era conhecido, não tardou a encontrar a mulher que seria mãe de seus filhos: Tarcísia, Clésio e Everton. Avô do Davi — e esperando o nascimento da Elisa —, não passava um dia sem pedir notícias dos netos pelo aplicativo de mensagens.

Sempre foi um homem de voz firme e de poucas palavras. Seus filhos o descrevem como uma pessoa que os amava "do seu jeitinho". Ele os viu crescer de longe, pois saíram do interior para morar na Capital em busca de trabalho e oportunidades de estudo.

"Quando íamos visitá-lo, no interior, de longe já era possível reconhecê-lo, parado na esquina, com sua camisa branca de mangas verdes (a farda informal de trabalho) e a barriguinha saliente. Outras vezes nós o encontrávamos sentado numa mesa, trabalhando", conta Everton. Ele corria ao encontro dos filhos, que se aproximavam, pediam a bênção e ele então perguntava como estavam. Sempre fez questão de apresentá-los para quem estivesse perto. Sempre demonstrou ter muito orgulho dos filhos.

José pôde presenciar a entrada de dois dos seus filhos para universidade, a começar pela mais velha, que se tornou Advogada. Mesmo depois de alguns anos ele, orgulhoso, continuava a mostrar o convite de formatura aos amigos do conjunto em que morava. O filho mais novo tornou-se Publicitário e estava prestes a defender seu Mestrado. José nunca compreendeu de fato o que era essa profissão, embora o filho tivesse tentado várias vezes explicar-lhe o que fazia. O filho do meio era a sua cópia — física e comportamental. Tinham os mesmos olhos, que carregavam uma expressão forte.

Foram 64 anos cultivando amigos e criando memórias inesquecíveis. "Uma das minhas lembranças preferidas é de quando fomos a um parque — meu irmão, a esposa dele, a filha dela e eu. Ele me comprou uma daquelas bolas grandes, que enchem de ar, e me recordo de ter ficado bem feliz com isso naquele momento. São a esses momentos felizes que me agarro quando a saudade aperta", recorda Everton.

José era amado por aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e que sabem que ele segue cuidando e olhando por todos, onde quer que esteja. Foi um pai, um avô, um amigo inigualável.

José nasceu em Simão Dias (SE) e faleceu em Simão Dias (SE), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de José, Everton Marques de Andrade. Este tributo foi apurado por Luma Garcia , editado por Luma Garcia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 26 de março de 2022.