1937 - 2020
Era no sertão que ele se sentia em casa.
"Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração"
Quem já ouviu "Asa Branca" e conheceu um pouco da história de Zé Ferreira sabe que sua trajetória era contada perfeitamente nos versos desse baião.
Zé Ferreira nasceu na roça. E lá foi criado, em meio à realidade dura do sertão potiguar. Todavia, tal realidade, que causa medo e espanto a muitos, não o assustava. Muito pelo contrário: era no sertão que ele se sentia em casa.
Mesmo assim, teve que sair de casa para buscar melhores condições de vida.
Chegando à capital cearense, trabalhou bastante, constituiu família e virou carpinteiro; um carpinteiro tal qual aquele de Nazaré: um homem de bom coração, que amava os filhos e era temente a Deus.
Atingindo a estabilidade almejada quando saiu do sertão, decidiu que era hora de voltar para ele de novo. Agora, porém, ele trocaria o sertão potiguar pelo paraibano. Achou sua nova casa na adorada Serra da Arara. Lá criou um sítio, lugar de memórias ainda vivas da infância tanto dos seus filhos quanto dos seus netos.
O sítio sempre foi o seu grande xodó. É impossível pensar em Zé Ferreira sem pensar na Serra da Arara e vice-versa. Agora, depois de sua partida, todos sentem saudade dele: o sítio, os filhos, os netos e os amigos. Mas todos já sabem: quando quiserem sentir sua presença novamente, é só voltar para o lugar que ele escolheu como lar...
José nasceu em Santana do Matos (RN) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo neto de José, Mateus de Sousa Leite Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2020.