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José Lucas da Silva

1967 - 2021

O maior torcedor e técnico do Topper Esporte Clube.

José Lucas foi casado por trinta e sete anos. Da união, cinco filhos: Michel, Andrey, Aline, Beatriz e Amanda. Como nos sonhos dele, todos graduados. As pessoas lhe chamavam de Lucas. Quase não era chamado de José. Foi bom pai, bom esposo, bom filho e bom irmão. Pilar para a família, cuidava de cada um.

Teve um longo e variado percurso de trabalho: empresas de cobrança, sindicato de professores, vendedor de marmitas, e até teve sua hamburgueria, aberta por um dos filhos. Quando foi dispensado do sindicato começou a atuar no ramo que sempre gostou: a cozinha.

As paixões: o fogão e o gramado - cozinhar e futebol. A lista de pratos preferidos era diversa: feijoada, peixe, comidas nordestinas, galinha caipira, sarapatel e buchada. Quem lhe ensinou os pratos todos que fazia com maior aptidão: sua mãe, Tereza. Desde seus 10 anos auxiliava a mãezinha na cozinha, fazendo a comida dos trabalhadores de obra que atuavam junto com seu pai, Severino.

Sobre o futebol: era torcedor do América, time do Rio de Janeiro. Além deste, também torcia para um time de sua cidade, Topper Esporte Clube. O Topper era composto em sua maioria por amigos, primos e outros familiares; era sua grande paixão, principalmente por ser o técnico do time. Aos domingos acompanhava os jogos do campeonato brasileiro no sofá da sala, sempre atento e com suas opiniões. Brincava com um aplicativo que é onde os torcedores tentam adivinhar a posição dos jogadores e o placar do jogo.

No domingo, além do almoço, o jogo também era motivo de encontro. A varanda era o ponto de encontro onde todos se reuniam. Os domingos eram por sua causa, alegres como ele. O chefe da cozinha: ele próprio, como se não bastasse a boa comida que fazia, era o responsável pela escolha das músicas, que também fazia parte de suas paixões. Grande amante da MPB, ensinou aos filhos a apreciar muitos artistas. Com ele, a família aprendeu a gostar de Ney Matogrosso, Nando Reis e Legião Urbana. Suas filhas contam que não há uma música da banda que elas não conheçam.

A história de sua união com Marilene foi daquelas que são fonte de inspiração para roteiro de novela. Conheceram-se no ponto de ônibus. Ela, a futura esposa, veio do Ceará para Brasília com um filho pequeno em busca de um emprego. Ele ajudou a moça que conheceu no ponto e depois disso não se desgrudaram mais.

Moraram juntos por uns 30 anos, sem se casarem em cartório ou igreja. E lá em 2017, fizeram a cerimônia, casaram-se no civil e igreja. Foi lindo, emocionante e sem dúvidas inesquecível para todos. Yan, o neto mais velho, entrou com as alianças e todos os filhos do casal entraram em seguida.

Ele dizia que foi um dos momentos mais bonitos que viveu. Falava que quando viu Marilene entrar de noiva, sentiu algo indescritível. Amor e cumplicidade permeavam a vida do casal. Totalmente opostos no jeito de ser, coincidiam no gosto musical e nas diferenças e com essa semelhança se completavam. Cozinhavam juntos aos finais de semana, iam às feiras, ao salão de beleza todos os sábados para Marilene cuidar dos cabelos e das unhas. Lucas sempre a acompanhava, para ele era um privilégio estar com a esposa em todos os momentos, e gostava muito de vê-la ficando ainda mais bonita.

Juntos foram aos shows de Ana Carolina, Nando Reis e Lulu Santos.

Juntinhos também criaram uma família linda e unida. Brincava que só poderia morrer em paz quando visse todos os filhos formados na graduação. Lutaram para proporcionar uma boa vida aos seus filhos, eram exigentes quanto aos estudos e notas da escola. José dizia que a obrigação deles era estudar. Marilene revelava em tom de segredo que ele tinha muito orgulho e admiração pelos filhos, mas não revelava a eles para não se acharem muito.

Moravam na chácara, junto a outros familiares, assim sempre houve muita união entre a família, desde quando os filhos eram pequenos. Lá os filhos lembram de terem vivido uma infância gostosa e divertida.

Lucas também teve netos, por quem ele foi um avô completamente apaixonado: Yan Lucas e Marcos Lucas levam parte do nome do vovô. Marquinhos lembra demais o avô, tanto na fisionomia, quanto em seu jeito de ser. Mexe as mãos e deixa-as paradinhas em cima do corpo assim como ele fazia e senta-se como ele também.

As filhas deixam um recado ao pai:

Meu pai, a pessoa mais risonha, contador de piadas, cozinheiro espetacular e um ser humano ímpar.
Pai, amigo, marido e filho de um coração gigante, aqui ele deixou muito amor e levou consigo muito mais.
Ah, José, quanta falta nos faz...
Quem me dera se por um descuido Deus te fizesse eterno.
Nunca iremos esquecer de todos os momentos que compartilhamos

Aqui seguimos com muito amor, conforme ele nos ensinou, cantando uma das nossas músicas favoritas, N do Nando Reis, que diz:
Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo
Espero que o tempo voe
Para que você retorne
Pra que eu possa te abraçar
E te beijar de novo.

José nasceu em Itabaiana (PB) e faleceu em Brasília (DF), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de José, Aline Laissa Ferreira da Silva e Amanda Caroline da Silva. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Raphaela Medeiros, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 27 de abril de 2022.