1927 - 2020
Um eterno aprendiz. Alfabetizado aos nove anos, escreveu livros e cursou duas universidades após ter aposentado.
Os exemplos de José Luiz foram muitos, a começar por sua integridade, passando pela humildade até chegar em sua fé. Era modelo de ser humano, que “não suportava injustiças, desonestidades, maldades, ou seja, todas as coisas ruins do mundo”, fala orgulhosa a filha Márcia.
Por circunstâncias da vida na roça, a entrada de José Luiz no mundo das letras aconteceu só aos nove anos, a qual foi muito incentivada por sua mãe. Logo tornou-se amante da leitura de livros, revistas e jornais. Concluiu o segundo grau, o atual Ensino Médio, aos 42 anos. Formação que lhe abriu as portas para ingressar na carreira de servidor público. Exerceu cargos como Oficial de Registro Civil, Oficial de Justiça, sendo o último de Auditor Fiscal do Estado de Pernambuco.
Após a aposentadoria, José Luiz escolheu continuar a trilhar o caminho da educação. Concluiu os cursos superiores - Licenciatura em História e Licenciatura e Bacharelado em Filosofia - em duas universidades diferentes: Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E, nessa jornada, transitou de aprendiz a escritor.
Conta a filha que o pai gostava de “conhecer locais históricos, de conversar e contar histórias vividas ou de outras que conheceu”. José Luiz tinha paixão por sua terra natal, o município de Machados, no interior de Pernambuco. Ele orgulhava-se de ter participado do processo de emancipação da sua cidade do coração. Mesmo morando em Recife há décadas, José Luiz era visitante assíduo dos eventos em Machados, especialmente os religiosos.
Autor de cinco livros, dos quais três pôde ver publicados, José Luiz era um grande contador de história, escreveu sobre a história de Machados, onde desempenhou papel ativo nas organizações sociais, fundando agremiações profissionais e sociais. Após a publicação de sua obra, foi homenageado com seu nome na biblioteca em uma escola municipal. Além do interesse pelas histórias regionais, José Luiz tratou de temas relevantes na área da educação e do envelhecimento, abordando a pobreza, o desrespeito e a violência contra a pessoa idosa.
José Luiz foi casado com Maria José, com quem celebrou bodas de Diamante pelos 60 anos de união e vivenciou a alegria de construir uma família com dez filhos: José Marcelon, Marcelo, Marcílio, José Marconi, Pedro Márcio, Marcelino, Maria Goretti, Márcia, Marcos e Maurício. “Eles eram realmente próximos, foram pessoas muito religiosas e sempre reforçaram os ensinamentos para sermos pessoas do bem, honestas, íntegras”, afirma a filha Márcia, que salienta como os pais eram “amados e admirados pela família e por todos”.
Após a partida da esposa, José Luiz continuou sendo forte, sempre muito lúcido e com a memória super ativa. “Dizia que já tinha vivido demais e queria conhecer o paraíso” ao lado da sua companheira de vida, recorda a filha, emocionada.
O legado de José Luiz permanece vivo para todos que o conheceram e, para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo, a filha faz o convite para que leiam sua autobiografia. Usando-a como inspiração, Márcia encerra esta homenagem com um trecho de “Biografia: Roteiro de Minha Vida” de José Luiz e Silva:
“Nas etapas da minha vida, tenho procurado cumpri-las, não foi fácil andar nesse roteiro porque na vida não encontramos somente as coisas saborosas, mas também, as amargosas que não dão vida e sim sofrimentos, às vezes atrozes. Escrevi esse livro, não para dar vida ao meu ego, mas para ser lido por quem gosta de fazer higiene mental até em leitura não filosófica ou científica”.
José nasceu em Machados (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de José, Marcia Girlene e Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de maio de 2021.