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José Miguel de Oliveira

1936 - 2020

Profissional inteligente e comprometido com o serviço público. Foi também um fervoroso defensor da educação.

A história de Zé Miguel começou no sertão alagoano, de onde saiu bem jovem, aos 13 anos, para ganhar a Cidade Maravilhosa. Ele havia sido alfabetizado por sua mãe e foi levado por um parente próximo para o Rio de Janeiro para estudar. Além de se destacar como melhor aluno, ele ajudava nas tarefas domésticas e vendia picolés.

Por causa de problemas familiares, foi obrigado a voltar para as Alagoas, mas se recusou a voltar para a roça e conseguiu ficar na cidade, não sem a ajuda de pessoas que ele sempre citava e de uma vaga na escola. Aliás, uma vaga não! Ele conseguiu, após testes, uma bolsa de estudos e a possibilidade de trabalho como bedel na mesma instituição.

Ali, iniciou sua vida acadêmica e profissional propriamente dita. Zé Miguel tornou-se professor de matemática, ingressou no curso de Engenharia Civil na UFAL e seguiu sua vida profissional, sempre ligada a instituições públicas. Chegou ao cargo de prefeito universitário na UFAL e a um cargo de direção na CASAL, a Companhia de Águas de Alagoas.

Extremamente inteligente, leitor assíduo e com uma memória espetacular, sabia contar todos os casos políticos de sua terra.
Zé Miguel era muito respeitado no meio profissional, tratava o serviço público com responsabilidade e ética.

Tinha muitos amigos e sempre valorizou sua família. Em sua trajetória, ajudou muitos parentes levando-os para a cidade e os encaminhando nos estudos. Aos que não tiveram a mesma sorte que ele e que viviam em condições precárias, ajudava financeiramente.

Para os filhos, sempre ressaltou a importância do conhecimento. Para ele, essa era "a maior herança que uma pessoa pode ter". Era muito feliz por ter seus quatro filhos com graduações e pós-graduações.

Ele foi casado uma única vez, por sessenta anos, e teve o orgulho de ser pai de Ana Áurea, Eduardo José, Rosa Valéria e Karina Maria, que também são muito orgulhosos do pai.

"Meu pai costumava contar que minha avó paterna aprendeu a ler sozinha, com uma cartilha comprada por um tostão que ela havia roubado do pai dela", conta a filha Ana Áurea, que relembra ainda outra passagem que ele frequentemente contava: "Ao chegar ao Rio de Janeiro, nas aulas de inglês, meu pai era chacoteado por não saber pronunciar as palavras e dizia... 'Quando chegar minha nota, vocês vão ver!' E só tirava nota máxima", conta a filha Ana Áurea.

Tinha como principais atributos sua generosidade e empatia. Amava música, adorava tocar gaita de boca e confraternizar com a família e os amigos.

"Gosto de viver, mesmo com as limitações da idade, quero ficar mais um tempinho por aqui", era assim que Zé Miguel expressava seu amor pela dádiva da vida!

José nasceu em Palmeira dos Índios (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Ana Áurea Alécio de Oliveira Rodrigues. Este tributo foi apurado por Irion Martins, editado por Lígia Franzin, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2020.