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José Nilton Morais Lima

1953 - 2021

Sonhava em erguer uma casinha na serra, para reunir a família, preparar um churrasco e conversar.

Ele era sinônimo de bondade. Solidário e sempre disponível a ajudar a quem quer que fosse, a qualquer tempo e lugar. Para ele não havia distâncias ou razões que o impedissem de praticar o bem: na alegria e na tristeza, nas festas ou nos momentos de angústia e preocupação, ele era apoio, era colo e era segurança. Assim era o José Nilton, conta a filha Edite.

Zé Nilton, como ele era conhecido entre os seus amigos e familiares, era um homem trabalhador, zeloso e prestativo — aquele com quem se podia contar para tudo. Ele era a certeza de acolhimento e um ombro amigo, não importando o problema.

Era acostumado a compartilhar com os membros da família cada detalhe da sua vida: ele os procurava constantemente para contar o mais singelo dos acontecimentos e, da mesma forma, demonstrava real interesse em saber tudo o que se passava com seus entes queridos.

Desde muito cedo o Zé Nilton ensinou aos filhos o valor de estar presente na vida das pessoas amadas e a importância que o trabalho tinha nessa relação: como caminhoneiro, ele passou anos viajando, distante de sua família, enfrentando uma vida dura, de muito trabalho e pouco sono, além dos perigos da estrada; e todo esse sacrifício tinha por objetivo dar o melhor à sua família, pois, embora distante fisicamente, seus pensamentos estavam neles. Trabalhou na roça, criou gado e até com apicultura ele se envolveu, tudo a fim de possibilitar qualidade de vida àqueles que tanto amava. E naquela casa nunca faltava mel.

Como pai, era extremamente preocupado com a educação dos filhos e netos, e nunca poupou esforços para que eles tivessem ensino de qualidade. Em tudo o que precisavam, lá estava o Zé, com seu espírito resoluto, pronto para "dar um jeito". Para ele, sempre havia uma solução, uma saída, uma forma de resolver as coisas; e tudo o que fazia para apoiar e ajudar a família era feito com a mais pura satisfação e alegria.

Edite conta que o pai estava sempre presente na vida dela e de seus irmãos, dos netos, familiares e amigos, e que sua participação era completa e diária; e que mesmo quando distante, ele se fazia presente nas ligações e áudios constantes. "E pensar que naqueles dias, às vezes, se reclamava do quão longos eram aqueles áudios e hoje, tudo o que se queria era receber centenas, milhares deles."

Zé Nilton sonhava com uma casinha na serra, um "sítio", como se diz no interior do Piauí; e como foi gratificante ver a sua alegria quando conseguiu comprar o terreno. Infelizmente, ele partiu antes de levantar a casa; mas pôde realizar o sonho de construir uma na cidade, com um grande quintal, onde se reunia com os filhos, netos, noras, demais familiares e amigos, para festejar a vida, fazer churrasco, conversar. Seus planos constantemente incluíam outras pessoas, pois ficava feliz em trazer alegria a todos à sua volta.

Quando alguém tão presente quanto Zé Nilton se vai, deixa um vazio imensurável na vida das pessoas que o amavam, um vazio impossível de preencher. Por esta razão, é tão difícil para filha, Edite, traduzir em palavras a dor causada pela ausência do pai.

Lembrando-se de uma passagem de “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, sobre os dois aspectos da morte: o material, físico, carnal; e o "piedoso, significativo, de melancólica beleza, o aspecto religioso", Edite sente que é muito difícil, com tanta dor e saudade, enxergar este segundo aspecto. No entanto, ela acredita que Deus, que representa todas as coisas, trará conforto a seus corações enlutados, por meio das belas memórias desse homem que preencheu suas vidas de significado, amor e alegria; e se apega na crença de que, "para os bons, a morte nunca é o fim".

Como compromisso de vida, Edite promete dedicar-se a preservar o legado de bondade e dedicação que Zé Nilton deixou. "A saudade sempre existirá, mas ele estará presente em nossas lembranças, nossas orações e pensamentos diários".

José nasceu em Francisco Santos (PI) e faleceu em Picos (PI), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Edite Ana Silva Morais Lima. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 2 de outubro de 2021.