1950 - 2020
Queria ser lembrado como um ótimo filho e um ótimo pai. Assim é!
Era bom comerciante desde menino. Aos 9 anos, para ajudar a família, trabalhava nas feiras do interior cearense. Aos 12, mudou-se para a capital, Fortaleza, e foi lidar com armazéns. Como morava em um bairro distante do local de trabalho, ficava depois do expediente, dormia por lá mesmo e só voltava para casa nos finais de semana. Houve época em que circulava de estação em estação, oferecendo a bom preço, nas paradas dos trens, os lanches e bolos que ele mesmo produzia.
Por volta dos 30 anos abriu um negócio próprio, uma mercearia nos moldes daquelas que antigamente eram chamadas de secos e molhados, pois vendia desde grãos in natura a granel até utensílios de uso doméstico. Quando entrou na casa dos 60, mudou o foco dos negócios e passou a proprietário de um depósito de material de construção. Vender. Era o que mais gostava de fazer.
Foi casado por 42 anos com Magaly Lima, dez anos mais nova que ele. Conheceram-se quando ela ainda era menina, num momento da vida em que Zé, como era conhecido entre os íntimos, estava trabalhando com o pai dela. Magaly ficou órfã muito cedo. Primeiro perdeu a mãe, aos 5 anos, e cerca de três anos depois faleceu seu pai, sendo então criada com dificuldade pela madrasta. José Onofre já sentia muito afeto por ela e a ajudava sempre que podia. Apaixonaram-se mais tarde. Esperaram até que ela completasse 18 anos e se casaram.
Um dos filhos do casal, Carlos, de 25 anos, conta que Magaly foi a única mulher da vida do pai: “Ele tinha um temperamento mais reservado, caladão, mas era nela que ele confiava e a quem expressava mais os sentimentos”.
Tiveram seis filhos: Carlos, Cristiano, José Carlos, Cristiane, Cleane e Clevanise. Por fatalidades da vida, entre os filhos homens, Carlos foi o único que sobreviveu. Um dos irmãos morreu ainda bebê e o outro aos 19 anos. Em sua dor, José Onofre resolvia tudo calado. “Ele preferia sofrer sozinho”, comenta Carlos. Mas tinha também seu lado brincalhão e apreciava a boa companhia do filho para comer bem. Seus pratos preferidos eram os peixes de mar e algumas comidas nordestinas, como buchada e panelada.
Católico, ia à missa pela manhã todos os domingos. Era amado por todos. Filho devotado, diariamente ligava para sua mãe e, ao menos uma vez por mês, ia visitá-la em Cascavel.
Como pai, estava sempre disponível para ajudar, sem cobrança. Fazia questão, porém, de ensinar os filhos a serem prudentes com o dinheiro, a terem uma reserva, pois nunca se sabe o dia de amanhã. “Ele sempre me preparou para viver sem ele, mas eu não imaginava que ia ser tão rápido”, diz Carlos, com saudade. O filho só tem boas lembranças do pai: “Todos os momentos que passamos juntos foram ótimos. Ele era meu melhor amigo”.
José nasceu em Cascavel (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido seu filho de José, Carlos Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 5 de agosto de 2020.