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José Paulino de Araujo

1937 - 2020

Apaixonado pelo aniversário, e encantado pela vida, sabia comemorar todo recomeço que surgia no caminho.

Trabalhador por necessidade, mecânico por destino, vitorioso por mérito.

Mais conhecido por “nego baixinho”, era dono dos olhos verdes mais queridos de Conceição das Alagoas.

Sempre foi um homem honesto e batalhador. Desde muito novo enfrentou os problemas que a vida colocou em seu caminho, sem nunca se esconder ou desistir. Sofreu muito, mas conquistou mais; soube viver intensamente cada sofrimento, mas também cada conquista, tirando sempre uma lição da primeira, e um sorriso de triunfo da segunda.

Mecânico por coincidências da vida, acabou se encontrando na profissão. Começou consertando bicicletas, depois motos e automóveis. Tornou-se ótimo no que fazia, porque precisava ser ótimo para conquistar clientes, e precisava dos clientes para se sustentar. José era ótimo porque sempre foi ótimo em tudo que queria fazer na vida.

Esforçado, saía de sua cidade para buscar peças para vender. Desanimou algumas vezes, mas nunca abaixou a cabeça diante das dificuldades.

Teve quatro filhos, e era apaixonado por eles. Primeiro, as três meninas de ouro do mecânico. Fazia de tudo pelas filhas e sempre lutou para dar do bom e do melhor para a família que tanto amava. Graças ao esforço do José mecânico, e o amor do José pai, a casa da família foi a primeira da cidade a ter uma televisão; não eram raras as vezes em que ele colocava toda a família no carro e ia até a cidade vizinha para um almoço diferente e bem mais gostoso num restaurante. Depois que os filhos cresceram, era hora de mimar as netas, que tiveram do vovô José todo afeto e corujice que se podia dar a alguém, sempre elogiando a beleza das netas.

Descobriu um outro filho, mas mesmo o pouco tempo de convivência não o impediu de ser um ótimo pai. O tempo foi menor, o amor não.

Sonhou um tanto e ainda que não tenha conquistado tudo, chegou bem perto. O mecânico que fantasiava uma terrinha para chamar de sua pôde realizar esse antigo desejo; ele foi muito feliz no pedacinho de chão que conquistou para si. José venceu na vida com muito suor e trabalho, sempre ensinando a todos que a honestidade pode levar a lugares incríveis. O sucesso é um deles.

Estudou pouco, mas tinha inteligência de sobra. Vaidoso, pintava o bigode e o cabelo, que era para não aparecer desleixado por aí. Apaixonado pela vida, amava aniversários. O seu em especial, 13 de janeiro, ele já esperava desde novembro! Achava que noventa ou cem anos era muito pouco, o homem deveria viver pelo menos uns duzentos, que era para poder viver bem vivido.

José dizia que tudo que fez e construiu era para deixar para os filhos. E deixou muito! Um legado de amor e simplicidade, de força de vontade e amor pela vida sem igual. Daqui, os familiares e amigos sentem saudade de um homem comum com força de super-herói e coração de gente boa. De lá, o mecânico simples e de amor sem igual segue agora no que deve ser seu novo emprego: interceder pelos que ama em tempo integral.

José nasceu em Biquinhas (MG) e faleceu em Uberaba (MG), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Sônia Resende de Araujo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de março de 2021.