1944 - 2020
O abraço e a voz forte, a firmeza e a alegria serão sempre seus legados entre nós.
José Raimundo, era mais conhecido como Magalhães. Era proprietário de uma loja de peças de carro, a Titã Auto Peças, em Fortaleza, mas era natural de Viçosa do Ceará, na Serra da Ibiapaba, lá onde o clima é agradável e quentinho durante o dia, mas onde à noite, a temperatura cai para uns 17 graus, como muito nevoeiro, fazendo tudo ficar diferente... o que sempre leva as pessoas e se reunirem com a família e os amigos para um bom café com a peta — um biscoito salgado de polvilho, o mais famoso do nordeste.
Com Magalhães era assim mesmo. Queria a família toda por perto. Era um apaixonado pela vida, pela família, filhos e netos. E como era conhecido na sua cidade e muito querido, gostava de andar e passear; tinha uma voz grossa, firme, sempre agradável. Adorava ver todos em sua casa de praia, com muitas frutas e sempre com aquele churrasco. "Meu tio gostava muito de conversar e falava muito de seus pais. Carregava o nome com orgulho. E quando falava, gesticulava bastante", contou a sobrinha Eurilanda.
José Raimundo, o Magalhães, carregava com muito orgulho esse nome. A sobrinha se orgulha que seu próprio filho, Guilherme, também seja conhecido assim, Maga. José Raimundo também era chamado pelo sobrenome pelos clientes de sua loja. A sobrinha nos contou que seu tio tinha grande cuidado e amor por esta loja, e que, mesmo aos domingos, passava por lá para saber se estava tudo bem.
Conta ainda que seu tio era irmão de sua mãe, Iolanda, que também já faleceu e que, "certamente os dois devem estar felizes agora, pois eram os filhos mais 'bagunceiros' da dona Raimunda e do seu José Mamede". Era o mais velho de oito irmãos, na idade, mas o mais novo em espírito, simpatia, carisma e envolvimento com a família. Esse seu lado criança e bagunceiro mostrava-se, com frequência, nas festas que fazia ou mesmo quando era convidado. Nos aniversários de crianças, ele fazia todas as brincadeiras. "Lembro-me que ele era sempre o Papai Noel, que os natais eram na casa dele. Era um tio querido. Engraçado que, quando descobrimos que ele era o Papai Noel, aquilo não foi uma tristeza para a gente, foi uma alegria", contou Eurilanda.
A neta mais velha, Camila, nos contou que o avô a chamava de "Vida". E nos disse que "Nada marca mais do que isso: 'A Vida linda do vô dela'", era assim que ele dizia. "Que honra ser sua Vida, vô! Quem dera eu tivesse mesmo esse poder, né? Talvez ainda ouvisse sua voz grossa dizendo que chegou em casa, ou a sua risada inconfundível assistindo TV. Obrigada por tudo o que vivemos. Você sabe que foi o melhor avô que eu poderia ter", completa Camila.
A sobrinha nos contou que José Raimundo dizia que não tinha medo de morrer, mas morria de medo de moto. A sobrinha pilota moto e ele sempre se preocupava. Contou ainda que, quando sobe na moto agora, reza e diz: "Tio, cuida de mim" e ainda que José Raimundo sempre foi aquele abraço forte, como sua voz. "Meu tio era firme, correto, palhaço e brincalhão", finaliza.
Pouco antes de ser intubado, estando com uma médica amiga da família, ele pediu para enviar um áudio dizendo: “Vai ficar tudo bem, eu vou sair dessa”.
José nasceu em Viçosa do Ceará (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de José, Eurilanda Magalhães de Araújo. Este tributo foi apurado por -, editado por -, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.