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José Telles Pinheiro

1942 - 2020

Devoto de Santo Antônio, adorava presentear com flores. Era um Romeu do século XXI.

Primeiro o café, depois o leite. Era uma das manias do José. Muito gentil, adorava ir na padaria e comprar pão doce pro café da manhã. Adorava rosas e orquídeas. Gostava de ouvir música e fazer suas orações diárias. Católico, era devoto de Santo Antônio.

Um dos orgulhos da vida, era seu pai. Médico sanitarista, trabalhou na rede de frente na vacinação contra a febre amarela, e José adorava contar essa história. Mas a mãe também não ficava para trás, vivia contando dos deliciosos bolos que ela preparava como ninguém. Quando se tornou pai, e depois avô, a presença era algo marcante, via a família como seu tesouro.

Surdo de um dos ouvidos, quando alguém ligava para oferecer algum serviço ele não conseguia entender ao certo, nem mesmo no viva voz. Uma vez, uma moça chamada Amanda ligou, mas ele entendeu Gerúsia. Da outra, ligaram e trataram mal José, que disse que ia ligar para o ministro! Queria ser médico como o pai, mas não deu. Seguiu carreira no direito, e trabalhou no Ministério da Saúde, onde foi muito querido. Foi lá que José conheceu o amor da sua vida.

Romântico, escrevia cartas para a amada. Coincidência ou não, os dois começaram a namorar dia de Santo Antônio. Se casaram em 1972. De lá em diante, nunca mais se desgrudaram. José fazia de tudo pela esposa. Quando ela quebrou o fêmur, levava café na cama e rosas do jardim. Assim que ela adoeceu – antes dele – por covid, e as visitas não podiam mais serem realizadas, José mandava pela enfermeira um beijinho para a esposa, todos os dias.

Do lado de cá, filhos, netos e amigos morrem de saudade todos os dias. Mas tudo bem, porque do lado de lá, José foi se encontrar sua alma gêmea.

José Thelles Pinheiro foi casado com Nilza Pereira Pinheiro por 45 anos, e faleceu dezesseis dias depois da esposa. Se você quer conhecer essa história, procure por Nilza Pereira Pinheiro, aqui neste memorial.

José nasceu Rio de Janeiro (RJ) e faleceu Niterói (RJ), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de José, Thalita Solis Pinheiro. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.