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Josefa Jales da Silva

1939 - 2020

Amava as pessoas, os animais, as flores e a água: do mar, da piscina e até mesmo da chuva.

Josefa gostava de ser chamada de Deda desde a infância, e a maioria das pessoas nem sabia qual era o seu nome verdadeiro.

Sua infância foi muito boa e enriquecida pela existência de seis irmãs e um irmão, quando jovem, era uma moça destemida e aventureira que participava de concursos nas emissoras de rádio.

Deda era vizinha de Vicente, os dois paqueravam e assim que começaram a namorar, ela engravidou! Segundo conta Valéria, filha do casal, os dois se casaram possuindo apenas um fogão e uma cama, todavia com o tempo foram se organizando, conquistaram a vida e juntos permaneceram durante cinquenta e nove lindos anos.

Eles tiveram sete filhos: Duílio, Armando e Vicente, Patrícia, Valéria, Valquíria e Valdira). Infelizmente, dois de seus meninos faleceram cedo e um terceiro, 44 dias depois dela, também faleceu por Covid-19. Em seu coração coube todos, foi mãe de consideração de muitas pessoas, sempre as cuidou com muito carinho e amor.

Viveram um casamento tranquilo e com um gosto em comum pelas praias. Muitas vezes saíam cedinho, por volta das seis horas da manhã e voltavam para casa em torno das 17 horas com todos os sete filhos e sempre de ônibus. Era uma alegria só e os lugares que mais frequentavam era Casa Caiada em Olinda. Também chegaram a visitar Maragogi, Ponta Negra e São José da Coroa Grande, em outros estados do Nordeste.

Com sua paixão incomum pela água, Deda, em suas horas livres, tinha o prazer de estar junto com a família fosse na praia ou na piscina e ela não dispensava nem mesmo um bom banho de água de chuva!

Ela exerceu lindamente seu papel de mãe e de avó, quando chegou na velhice. Ela que trabalhou como tecelã nas fábricas de tecidos em Recife na década de 60 aproximadamente por dez anos, depois que se tornou mãe, passou a cuidar exclusivamente do lar, mas seus serviços não diminuíram, porque vivia para inventar afazeres dentro de casa.

Dona Deda foi como uma leoa que cuidava de todos com muito carinho e cuidado. Era uma mãe maravilhosa sempre disposta a ajudar todos e nem o sofrimento causado pela perda de dois filhos homens, tiraram o brilho das reuniões em família que eram sempre regadas a muita comida, pois ela gostava de fartura. Muito animada, cantarolava e dançava com os filhos, netos e netas e sem sua presença os Natais nunca serão do mesmo jeito.

Era uma pessoa autêntica que não gostava de mentiras, nem poupava sacrifícios ou palavras para defender os seus. Essa característica fazia com que alguns a vissem como brava, porém ela era dona de um coração enorme, maior que si mesma. Gostava de beijar e abraçar a todos. Nos aniversários acordava os aniversariantes cantando o mais lindo “parabéns para você”, com uma cantoria que vinha do fundo do coração. Sempre nos encontros familiares havia o momento do beijo no esposo, que causava a maior euforia nos netos e bisnetos.

Suas maiores paixões eram seus animais de estimação e suas flores, contudo era uma pena ela não poder cultivá-las em casa, porque havia muitas galinhas e seis cachorros. No entanto, isso não era um impedimento para decorar seu lar com flores artificiais e ela tinha uma cesta enorme com vários tipos delas.

Sempre que havia alguma data comemorativa, Dona Deda ganhava rosas e orquídeas naturais e cuidava delas até que morressem. Sua filha Valéria conta que uma maneira adotada pela família para se lembrar da mãe durante as comemorações, é colocar sobre a mesa uma rosa vermelha que há em sua casa em homenagem a ela.

Apesar de sua partida a família tenta levar a vida com alegria mesmo com muita saudade no peito.

Josefa nasceu em Rio Tinto (PB) e faleceu em Recife (PE), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Josefa, Valéria Jales. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2022.