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Josias Carlos da Silva

1939 - 2020

Romântico, gostava de apreciar a lua e ouvir a esposa cantar.

Com muitos amigos e querido por todos, Josias era um homem de poucas palavras e muitas ações. Ensinou aos filhos o valor da solidariedade, da empatia e da compaixão.

De espírito empreendedor, iniciou na lida ainda muito jovem. Foi dono de padaria, depois de pousada, e para ele não tinha tempo ruim. As tempestades iam e vinham com ele sempre se segurando como podia e seguindo em frente. Incansável, insistia em manter vivo seu negócio, pois a família e os funcionários dependiam dele e Josias nunca foi homem de desistir.

Embora sua dedicação ao trabalho fosse grande, sempre foi um pai presente. Afetuoso e cuidadoso, sua relação com a família era de amor, acolhimento e atenção. Ele considerava a esposa a melhor cantora do mundo.

Excelente anfitrião, Josias gostava de receber as pessoas e adorava um bom prato. Dentre suas predileções estão algumas iguarias regionais como: cozido, carne de sol, macaxeira, cuscuz, comidinhas de milho e feijoada.

Adepto da frase: “É melhor estar em paz do que ter razão”, fugia de brigas e discussões. Acreditava no consenso, em tentar compreender o outro e, para evitar confusão dizia: “Você está certo, você tem razão”. Tinha bom coração, não gostava de ver ninguém necessitado, sofrendo e doente. Era um pacificador.

Gostava de contar estórias e narrava causos como ninguém, e eles sempre começavam assim: “Era duma vez...” E lá ia o Josias desenrolando os enredos para os netos que, fascinados, queriam cada vez mais. Tinha a estória da lagartixa colorida que ele inventou e era muito engraçada.

Era o tipo de homem com quem as pessoas se sentiam seguras. Era assim com os amigos, com a esposa e os filhos. Participava ativamente da vida de cada um, mesmo depois dos filhos adultos e com suas próprias responsabilidades. Quando o bebê da filha Eveline, tão aguardado e querido por todos, se engasgou com leite durante a madrugada, aos dois meses de vida, e ela, em pânico, pediu ajuda aos pais, Josias virou o netinho de bruços e bateu nas costinhas dele até ele voltar a respirar, e deu tudo certo.

Embora não gostasse de filmes de terror e odiasse hospitais e cemitérios, era o herói da família. Ele era a prova viva de que heróis também têm medo, riem, choram e padecem das mesmas emoções.

Josias queria parar, “pendurar as chuteiras”, dizia que estava cansado. Planejava arrendar seu negócio, ir acertando as contas dos funcionários e depois, morar em Recife, curtir a vida.

Eveline lembra-se das peripécias do pai com carinho, usando os chapéus que ela o presenteava. Sonha com ele, embora os sonhos estejam ficando cada vez menos constantes. Mas a filha sabe que Josias é eterno e permanecerá na memória e nos corações da esposa, dos três filhos, dos netos e dos amigos que deixou.

Josias é inesquecível.

Josias nasceu em Palmares (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Josias, Eveline Siqueira Carlos. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Rosa Osana, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.