1938 - 2020
Cosia a mão guardanapos perfeitos para dar de presente aos filhos, em cada pontinho ia junto o seu amor.
Jurema era chamada pelos irmãos de Ema ou de Juju. Ela falava aos filhos que era feliz por ter tido uma infância muito boa durante, a qual se divertia com os pais João e Maria e com os irmãos Tereza, Noé e Clotilde. Contava muitas histórias, mas a que sua filha Ana Cláudia nunca se esqueceu é a do dia em que, quando ela tinha oito anos, derrubou uma tia no rio e pensou que havia cometido uma tragédia; mas, no fim, correu tudo bem, a tia não se machucou e tudo não passou de um pequeno acidente.
Uma mulher muito forte e determinada, que iniciou a vida profissional aos 18 anos trabalhando como doméstica e sempre contou isso com muito orgulho. Além deste trabalho, costurava à mão, reformava roupas e fazia pontos de agulha, utilizando a destreza de suas mãos caprichosas e o carinho que trazia no coração. Sua peça preferida de confeccionar eram os guardanapos com os quais presenteava suas filhas e também deixava alguns para o próprio uso em casa.
Uma mãe apaixonada por seus 14 filhos: Ligia, Regina, Miguel, Paulo, Renato, Ronaldo, Vera, Agnaldo, Antônio, Maria do Carmo, Ana Cláudia, Marcio Valério, Maurício e Mauricélia. Ela teve 39 netos, 41 bisnetos e seis tataranetos; o carinho era o ingrediente principal que unia esta família. Jurema morava com sua filha Ana Cláudia, e sempre viveu rodeada pelos demais que iam visitá-la praticamente todos os dias. Os filhos que moravam longe não conseguiam ficar muito tempo sem vê-la, além dos encontros presenciais - as visitas aconteciam a cada três meses -, Jurema recebia telefonemas desses filhos todos os dias, aproveitavam cada chamada para ter um colinho de mãe ainda que por telefone.
Devido a um desgaste severo no quadril passou a fazer uso de cadeira de rodas, esse acontecimento não abalou sua confiança e pro atividade, fazia tudo o que achava necessário e prazeroso. Batizada na igreja evangélica, Juju só deixou de ir aos cultos e estar em comunhão com os irmãos durante a pandemia.
Como dona de casa, carregava uma mania de limpeza que simbolizava o cuidado e apreço que possuía por tudo o que cuidava. Costumava dizer que seu lar era um “brinco”, pois sempre se encontrava muito limpinha e cheirosa. Além disso, tinha mania de tomar muitos banhos! Tomava banho para tudo, amava estar cheirosa e sempre exalava um cheiro doce delicioso. Usava talco para tudo, quando tomava banho sozinha, sem a ajuda, arrumava-se e aparecia toda branquinha de talco.
A filha, Ana Cláudia, conta com carinho como como foi viver ao lado da mãe Jurema: “Minha vida toda foi ao lado dela. Fui a filha que sempre esteve por perto, a que viveu junto a ela nos momentos difíceis e nos dias de alegrias. Dei banho, carreguei no colo... Quando minha mãe fez 80 anos, fizemos uma festa linda, que a deixou emocionada! Ria e chorava de alegria. Era nosso alicerce, está difícil viver sem ela, mas tenho certeza que ela cuida de nós de onde está”.
Jurema nasceu em São Gabriel (RS) e faleceu em São Gabriel (RS), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Jurema, Ana Cláudia Fagundense Guimarães. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Claiane Lamperth e moderado por Ana Macarini em 2 de dezembro de 2021.