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Lásaro Góes da Silva

1951 - 2020

Muitas crianças tiveram a sorte de poder passear na carreta dele; ele amava mimar os pequenos.

Homenagem da filha Fabiana ao seu amado pai:

Era um homem muito alegre e brincalhão, gostava de apelidar todo mundo, vivia puxando papo e mexendo com os amigos e conhecidos. Era raríssimo alguma coisa tirar ele da calma e bom-humor.

Sou a terceira filha dele, meu pai era separado da minha mãe, há mais ou menos dez anos. Morava em uma cidade próxima, e tínhamos uma relação boa, mesmo não morando na mesma casa. Eu costumava ir na casa dele e nos víamos; outras vezes ele vinha à minha casa e passava dias comigo, sempre nos esforçávamos para nos ver.

Ele era carreteiro, então a maior parte do tempo, estava trabalhando. Ele não pôde ir ao meu casamento, não conseguiu chegar a tempo, por conta de um compromisso de trabalho. Mas tínhamos muitas historias boas partilhadas; ele era bem engraçado, muito festivo, estava sempre brincando; amava criança, quando era alguém próximo, ele levava para andar de carreta. Todos o conheciam, cumprimentavam, chamavam ele de "Lau", ou "Lau carreteiro". Vivia constantemente animado; era calmo, paciente e gostava de conversar. A maior habilidade do meu pai é que ele estava sempre disponível para ouvir, dar atenção ou um conselho.

Gostava muito de assistir filme de ação, sempre comentava que era tudo de mentira; mesmo assim só assistia esse tipo de filmes. Algumas vezes, quando estava em casa, gostava de jogar dominó com um vizinho, começava à tarde e ia até a madrugada jogando. Apreciador de músicas, saía à noite para curtir seresta e reggae. Ele não bebia há muitos anos, então ia só pra curtir a música mesmo. Outro momento de alegria para ele era ficar na praça conversando.

Ele era um pai muito atencioso, sempre dizia que tudo se resolvia na conversa, não era bravo, nem rígido. Quando éramos adolescentes, ele nos levava nas festas e dizia que tal horário viria nos buscar. E quando dava o horário combinado, ele nos buscava, sem um minuto de atraso.

Sempre teve uma boa relação com as três filhas, e era bem protetor. Ele era um avó muito babão; quando meu sobrinho nasceu, ele parou de beber e começou a frequentar o AAA em 1995; desde então não bebeu mais. Vivia para fazer as vontade de todos os netos, e antes de falecer conseguiu conhecer o filho da minha sobrinha.

A comida preferida dele era feijoada, e de sobremesa, ele gostava de cocada, goiabada com requeijão, e bolo quente dentro do pão.

No dia que fui internar ele, como ele era caminhoneiro, ele conhecia todos os caminhos, e ele foi falando o nome de todos os bairros que passamos. Ele perguntou de todo mundo, dos filhos, sobrinhos, e eu sempre brincava falando que ele era fofoqueiro. É um alento saber que eu pude estar com ele naquele momento, dando apoio e conversando, como ele sempre fez comigo.

As melhores memórias que tenho com meu pai é de quando íamos à praia. Ele gostava de compartilhar histórias da vida em nossos encontros. Nas datas comemorativas, como Dia dos Pais, Natal, ou aniversario, ele sempre ficava muito alegre e gostava muito de estar com a gente. Guardo com muito carinho essas lembranças, lembranças de dias e horas felizes que pude compartilhar com esse homem tão especial que foi o meu pai.

Lásaro nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Candeias (BA), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Lásaro, Fabiana Almeida da Silva. Este tributo foi apurado por Emily Bem, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 3 de dezembro de 2021.