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Lazaro Antonio Evangelista

1931 - 2021

Se equilibrou entre honra, força, bondade e amor.

Lazaro Antonio nasceu no interior de Minas Gerais, no município de Coromandel, no início da década de 30. A vida campesina de sua família exigiu que ele aprendesse a trabalhar muito cedo; cuidava dos animais e da lavoura também.

Mesmo com pouca instrução, deixou o campo, mudou-se para a cidade e sabia o que fazer para corroborar com o desejo de sua amada: dar boa educação aos filhos e vê-los crescer profissionalmente.

Quando jovem contraiu malária e, milagrosamente, sobreviveu à infecção com os únicos recursos disponíveis: os medicamentos naturais. Também contraiu a Doença de Chagas, e lutou contra ela até o final de sua vida. A neta, Milena, conta que mesmo com todas as dificuldades o avô foi um homem doce e sábio: "Apesar de toda a luta, ele sempre demonstrou o maior respeito por cada pessoa [...]. Eu nunca o vi elevar o tom de voz, deixar de ser uma pessoa doce e respeitosa".

Conheceu Aparecida e apaixonou-se pela professora mandona. Casou-se com a sua amada e juntos tiveram 11 filhos, aos quais ele gostava de chamar de "elementos". Lazaro era um homem calmo e de vocabulário robusto; gostava de comunicar-se conforme as normas cultas da língua portuguesa. Quando um de seus filhos chegava, dizia à sua amada “Ôras, é o elemento seu filho, Aparecida!”. Mesmo com temperamentos opostos, o casal construiu uma relação de companheirismo. Ia às compras com a esposa e assistia jornais e novelas com ela.

O vocativo carinhoso também passou para os netos e bisnetos. Milena, neta de Lazaro, conta que o avô acordava-os dizendo "elementos, vamos agir, o dever nos espera”. Dentre as guerras travadas por Lazaro, a principal era contra a ignorância, o domínio e a estagnação. Por isso, dizia frequentemente a sua prole "deixem de anarquia!". Lazaro também recebeu um vocativo à moda mineira, seus familiares e amigos o chamavam de Lazin.

Lazin compreendia que a vida não era feita só de trabalho, separava os feriados para pescar com os companheiros tio Lindval e o "elemento" Felipe, um de seus netos. A atividade era suspensa em datas comemorativas como a véspera e o dia do Natal, e o aniversário do patriarca, pois os elementos articulavam-se para comparecer às celebrações na casa dele. Milena conta que ter os elementos reunidos em sua casa era um dos momentos mais felizes do avô, mesmo que na reunião estivesse somente parte da prole.

O avô inspirou Milena em sua integridade e hospitalidade. "Meus pais se separaram e eu vivi afastada dos meus avós paternos (dele) por parte da minha infância, mas isso não deixou de influenciar no carinho que ele sempre teve por mim, em me receber sempre tão bem, com a mesa sempre cheia, fazia café, não importava que horas eram. Foi uma pessoa querida para todos que o conheceram", saudosa - relembra a neta.

Lazaro nasceu em Coromandel (MG) e faleceu em Brasília (DF), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Lazaro, Milena de Oliveira Evangelista. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Claiane Lamperth, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2022.