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Letícia Oliveira da Silva

1932 - 2021

Cantava baixinho os frevos-canção que amava, com a alegria e balanço de quem dança com a alma.

Carinhosamente conhecida como Dona Lé, usou de sua sabedoria para guiar a família com amor, ensinamentos e sorrisos incomparáveis.

Ainda que com uma vida difícil, transformou os percalços do seu caminho em ditados de sabedorias e ensinamentos. Sempre tinha um bom conselho ou dica. Dizia sempre que se olhasse para trás ao sair de algum lugar para ver se não havia algo que pudesse ser consertado. “Ela falava isso para que não deixássemos as coisas fora do lugar. Porém, mais tarde percebi que isso é um sábio conselho para a vida como um todo, pois faz toda diferença, seja para um lugar, uma situação ou uma relação. Dizia também que 'quem quer muito do seu amigo, fica sem amigo e sem nada', um modo de dizer que ninguém nos deve nada e que temos que ser responsáveis por nossas decisões e escolhas”, conta a neta Tasia.

Gostava de viajar e dos lugares que conheceu certamente foi a Itália que ficou marcada em seu coração. Sempre que podia recordava com carinho dos momentos vividos naquele país, e contava com detalhes o quanto amou tudo e quão lindas eram as paisagens de lá.

Uma boa festa regada à música fazia parte de suas preferências. Escutava marchinhas de Carnaval, serestas e tinha uma intimidade peculiar com os frevos-canção, os quais eram cantados baixinhos por ela, animada e com um balanço de quem saltita e dança o frevo com a alma. A canção "Botões de Laranjeira", de Pedro Caetano, era uma de suas preferidas, como recorda Tasia: "Se eu fechar os olhos, parece que a vejo cantar, 'Maria Madalena dos Anzóis Pereira, teu beijo tem aroma de botões de laranjeira'".

Casou-se com Osvaldo, amor de sua vida, em uma longeva união de sessenta e sete anos. Os dois se conheceram no escritório da fábrica em que ambos trabalhavam, ela como secretária executiva e ele como gerente de lojas. Logo após o casamento, Lé resolveu dedicar-se exclusivamente à família — sua joia mais preciosa. O casal teve cinco filhos: Rejane, Robério, Rouseane, Roberto e Osvaldinho. Nutria o mais profundo carinho pelos netos, Tasia, Maria Rejane, Letícia, Raquel, Renan, Rinaldinho, Regina, Kyara e pelos bisnetos, Malu e João Vicente.

Dona de casa, com mãos fortes e muito amor, esteve ao lado de seu esposo, sendo sua companheira em todas as conquistas e provações. Mesmo em situações difíceis, Dona Lé permaneceu forte e inabalável ao lado dele, devotando sua vida para cuidar de seu amado e manter as bases familiares sólidas.

Com uma personalidade forte, ao ver situações que precisavam ser resolvidas, tomava a frente e o fazia enfrentando quem se opusesse. Por esse motivo, foi apelidada pela família de Dona Encrenca.

Cozinheira de mão cheia, tinha o dom de fascinar toda a família com os seus deliciosos quitutes. "Minha avó cozinhava tudo maravilhosamente bem e muito por conta dela eu amo cozinhar. Eu amava a Delícia de Abacaxi que ela preparava", conta Tasia.

Sua presença tão marcante, as doces recordações que sempre ecoam na memória e os ensinamentos tão valiosos serão passados para as gerações futuras. “A saudade é imensa, bem como o legado que deixou” finaliza Tasia.

Letícia nasceu em Paulista (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Letícia, Tasia Bianca Chaves Avelino. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Hortência Maia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2021.