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Lia Mara de Almeida Nunes

1965 - 2021

Sua risada gostosa sempre aparecia no meio de toda conversa.

Carta aberta da filha Cristiele para a mãe Lia:

Uma mãe coruja, que sempre foi dona de casa e dedicou toda a sua vida a proteger e amar seus filhos. Uma vó babona, que fazia de tudo pelos seus netos. Uma esposa companheira, que desde a infância foi apaixonada pelo homem que veio a ser pai dos seus filhos. Lia foi o pilar mais importante da vida de sua família.

Foi uma filha amorosa, que até o último momento esteve presente ao lado de seus pais. Hoje, ela está lá no céu sendo acolhida por eles, que agora estão unidos na vida eterna.

Era forte como um leão, mas, às vezes, tão frágil como a pétala de uma flor. Foi amparo aos seus nos dias de tristeza e ótima companhia nos dias de alegria. A sua doçura combinada com a sua força a tornava um dos seres mais especiais que já passaram por esse mundo.

Uma pessoa que transbordava alegria e bom humor. Era amável e gentil, que nunca teve inimigos. Se fosse preciso, tirava a roupa do próprio corpo para dar a quem necessitasse. Sempre foi uma amiga sincera, ombro amigo a quem precisasse, transmitia seu instinto materno a todos por quem sentia carinho.

Gremista fanática, não assistia aos jogos para não ficar ansiosa, mas ligava o rádio de vez em quando para saber como estava a situação da partida. Sempre dizia que o time estava ruim, embora mal soubesse a escalação. Essa lembrança engraçada será o que jamais esqueceremos quando o assunto for seu amor pelo tricolor.

Amava escrever, tinha diversos cadernos de anotações desde a sua infância. Seu passatempo preferido era anotar receitas, dicas de limpeza, simpatias e tantas outras coisas que nunca seriam feitas. Sempre foi de escrever cartas, principalmente ao seu amor durante a adolescência, quando ela e meu pai estavam distantes um do outro.

Adorava cozinhar, e temperava suas comidas como ninguém. Fazia o melhor feijão do mundo.

Seu chimarrão era sagrado. Todos os dias de manhã e, às vezes, também de tardezinha, o mate amargo era confirmado.

Guardava sempre as recordações do seu passado. Fotos da família, convites e lembranças de aniversário, casamento, formatura, cartas, entre tantas outras coisas que contavam a sua história.

Para quem a amava ela foi a certeza de que os bons, que já cumpriram sua missão na terra, às vezes, se vão, não obstante, cedo demais. Ficam aqui aqueles que precisam aprender ainda sobre a vida e sobre o amor. Basicamente, permanecem na terra aqueles que devem se tornar um pouquinho parecidos com Lia para que o mundo seja um lugar melhor.

Lia nasceu em Caçapava do Sul (RS) e faleceu em Bagé (RS), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Lia, Cristielli de Almeida Nunes. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Talita Camargos, revisado por Walker e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2021.