1954 - 2020
Guerreira e batalhadora, uma flor com fibras de aço. Queria transformar o mundo num lugar mais amoroso.
Mulher da cabecinha teimosa e do coração extremamente gigante, que se doava a todos que lhe batessem à porta. As portas de seu coração não tinham trancas, nem chaves... Viviam sempre abertas, prontas para acolher, cuidar e dar suporte a qualquer pessoa que precisasse de ajuda.
Não sabia matemática, tampouco português, mas foi mestre para os seis filhos a quem ensinou profundos valores como respeito, honestidade, amor ao próximo e a Deus.
Sua sabedoria se refletia nos cuidados com a família, em seu rosto sempre sorridente e na leveza com que enfrentava cada desafio ou dificuldade.
Transbordava amor por seu esposo, filhos, para os doze netos e três bisnetos. Ninguém saía de sua casa sem um abraço daqueles bem gostosos, dados de corpo e alma.
Em seu coração doce e puro não havia espaço para mágoas; caso se aborrecesse com algo, suas raivinhas momentâneas se evaporavam num piscar de olhos.
Lindalva era tão altruísta e cuidava tanto de todos que até se esquecia de cuidar da própria saúde.
Na Páscoa, comprou pão de coco – uma tradição do povo cearense no período Pascal -, e saiu distribuindo para amigos, vizinhos e familiares. Era um ritual que essa mulher de alma iluminada fazia questão de cumprir todos os anos.
As festas de Natal em sua casa tinham a mesa sempre farta, a alegria da família reunida e o desejo de celebrar o nascimento de Jesus. Mas, Dona Lindalva era incapaz de ter sua felicidade completa, caso não ajudasse aqueles que pouco ou nada têm. Por isso, sempre nessa época do ano se mobilizava para arrecadar cestas básicas e distribuir aos mais necessitados.
Vivia dizendo: “Em coração de mãe sempre cabe mais um!”. Mas, a verdade é que em seu generoso coração sempre cabiam milhares de “mais um”.
“A família sente sua falta, com o peito rasgado de dor!”, conta o filho caçula, Romário.
Mas no peito de cada um mora a certeza de que um dia haverá o reencontro, conforme era ensinado pela mãe, que fazia questão de repetir aos filhos as palavras de Jesus.
Devota de Nossa Senhora, passava o mês de maio inteirinho vestida de branco, e tinha o costume de dizer que partiria num sábado deste mês, que é tradicionalmente o mês consagrado à Virgem Maria.
E foi assim, no primeiro sábado dedicado à Santa Mãe de Nosso Senhor que Lindalva partiu, certamente de mãos dadas com a sua santa de devoção.
Recentemente, havia realizado seu maior sonho: casar-se na igreja com seu esposo, a quem estava unida há quarenta e oito anos apenas pelas leis dos homens. Foi um dia sublime! Seus olhos brilhavam como estrelas, de tanto contentamento; seu semblante irradiava gratidão ao marido, aos filhos, netos e bisnetos, pelo sonho realizado.
Lindalva costumava dizer que “No dia que realizar meu sonho de casar-me na igreja, Jesus pode vir me buscar!”.
A família, por meio do testemunho de Romário, agradece aos anjos por terem ganhado de presente dos céus alguns meses a mais na companhia dessa mulher tão querida e maravilhosa, que foi, para cada um deles um anjo encarnado na Terra.
Nossa Senhora está certamente de mãos dadas com a senhora no céu! E seus filhos, netos, bisnetos, esposo, familiares, amigos e mais cada um que foi tocado por sua bondade guardarão para todo o sempre sua presença de luz dentro de seus corações.
Lindalva nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Lindalva, Romário da Silva Pinheiro. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2020.