Lourival dos Reis

1947 - 2020

Acreditava que oração de mãe cura: fazia suas preces e pedia a Deus que olhasse pelos seus.

Lourival era pianista desde os oito anos de idade. Frequentou conservatórios de música de Garça, interior de São Paulo, em Osasco e em Curitiba, onde a família residiu por seis anos. Suas viagens interiores eram intercaladas pelo universo da música.

Desde a adolescência enfrentou os desafios do sofrimento mental e lutou por trinta e sete anos contra a doença, sempre com esperança de cura. Desde 1983, com o apoio do Centro de Atenção Psicossocial da Prefeitura de Osasco, estava estável.

Ele mesmo controlava religiosamente os horários da medicação. Nenhuma vez faltou às sessões com o psiquiatra ou com o psicólogo. Sempre acreditou que ficaria livre da esquizofrenia - a doença da solidão - porque vivia em um mundo estranho, desconhecido e impenetrável para os outros.

Rezava várias vezes ao dia: "Deus todo-poderoso, criador do céu e da terra, seja a nossa salvação". Não se cansava de pedir a bênção da mãe e também que ela rezasse por ele, "porque oração de mãe cura". Gostava de assistir à missa nas manhãs de domingo pela TV.

O irmão João conta: “Teve uma existência monástica. Nunca reclamou de nada, nem das quase dez internações antes de aceitar o tratamento ambulatorial psiquiátrico. Não tinha muitas roupas, e gostava das que tinha".

No inventário dos seus objetos pessoais, deixou um crucifixo, um relógio, um despertador, uma carteira, um cinto, um óculos, um guarda-chuva e três livros: "Para ler a Bíblia", "Método infantil para piano", de Francisco Russo, e "120 músicas favoritas", de Mario Mascarenhas.

Se ele era feliz, João não sabe. Apenas observava um detalhe importante que podia passar despercebido: ele nunca sorria, mesmo quando sabiam que estava contente.

Com a evolução do tratamento conseguiu se expressar melhor e isso foi novidade para João: “Nem consegui responder ao Val, como eu o chamava desde criança, quando disse recentemente, pela primeira vez na vida: 'Eu te amo, João, e preciso de você'. Minha mãe também nem soube responder a ele quando disse: 'Mãe, a senhora é a minha melhor amiga'.