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Luciano da Silveira Richa

1956 - 2020

Atravessou a vida dançando, enquanto construía móveis e alegrias.

O marceneiro Luciano era assíduo folião dos carnavais de Cantagalo (RJ). Suas fantasias eram as mais aguardadas. Devoto de São José, seu colega e padroeiro de ofício, e de Jesus e Maria, era disputado pelos arraiais das festas juninas, que animava em trajes elaborados. Não podia ser diferente. Era de uma alegria contagiante.

Sétimo numa família de dez filhos, Luciano foi o irmão amoroso e amigo, o filho dedicado e apaixonado, o primo mais querido e brincalhão, o tio que amava absolutamente todos os vários sobrinhos, o pai alucinado de amor pelos três filhos e pelas quatro netas, o simpático sogro parceiro. Mas seu coração era maior que o mundo. Nele havia afeto para quem mais chegasse. Por isso adotou as filhas de sua companheira, essa mesma que agora diz ter ficado o mundo vazio e muito mais triste sem ele. Essa mesma que recorda o grande cozinheiro – de reconhecidos dotes culinários – e companheiro de viagens, o homem generoso que pôs em prática o ensinamento cristão de fazer o bem sem olhar a quem, do dedicar-se ao próximo sem distinção, do entregar-se de corpo e alma às pessoas que ama.

Dançar, festejar, cozinhar, viajar, fazer móveis: nenhuma dessas ações tem muito sentido quando feitas sem alguém ou apenas para si mesmo. Pelo menos não se faz com a mesma alegria. É o que Luciano nos ensinou.

Luciano nasceu em Bom Jardim (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Luciano, Angelica Lucy Duarte de Araujo. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de julho de 2020.