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Luis Eduardo Pedroza

1969 - 2021

Apaixonado windsurfista, conduziu a vida ao sabor dos ventos, das pizzas e do amor às suas meninas.

“Vento, ventania
Me leve para as bordas do céu
Pois vou puxar as barbas de Deus”...
(Bruno Gouveia – Bikini Cavadão)

Certamente o carismático Edu, Dudu, já virou amigo íntimo do Todo Poderoso e não perde a oportunidade de singrar as nuvens com a destreza dos windsurfistas. Era um brasiliense que sabia aproveitar os bons ventos com os amigos, com a família e com a vela no Lago Paranoá, onde praticava seu esporte favorito.

Pisciano, Eduardo sentia-se feliz na água, fosse do mar ou das cachoeiras do planalto central, e não tinha medo de emoções fortes. “Aos 3 anos, pulou na frente do barco batelão de um amigo do pai para pegar um brinquedo que caiu no Paranoá. A embarcação passou por cima dele e após uns 20 segundos ele saiu pela popa, ileso e radiante, boiando com seu colete salva-vidas”, conta a esposa Sinara.

Tinha 7 anos quando subiu no telhado da escola e ficou lá por horas. E aos 10, apaixonou-se pelo windsurfe durante uma viagem de férias para Natal, no Rio Grande do Norte, com o pai, Sérgio, a mãe, Solange, o irmão mais velho, Luís André, e o seu duplo, o gêmeo Luís Gustavo.

Edu gostava muito de relembrar essas viagens de carro com a família para o Nordeste ou para a região dos lagos no Rio de Janeiro. Numa delas, acamparam no terreno da casa de um amigo dos pais. Só que furou o pneu do reboque onde estava a barraca e não havia estepe. Aventura inesquecível para um garoto outdoor.

Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Marketing, trabalhou em diversas frentes de gestão. Foi numa delas, na secretaria da tradicional escola de inglês Casa Thomas Jefferson, na Asa Norte, que cruzou seu destino com a mulher que lhe daria duas filhas e muitas outras alegrias: Sinara, então professora do estabelecimento.

“Eu também vendia produtos de uma empresa de cosméticos e ele se tornou meu cliente. Namoramos por um ano e meio. Mas com seis meses de namoro, decidimos nos casar. Noivamos no dia 19 de junho de 1999 e nos casamos em 19 de dezembro desse mesmo ano, numa cerimônia civil e religiosa no espaço Recanto das Águas, um lugar lindo, cheio de verde e de natureza, bem a cara do Edu”, revela Sinara.

Foram vinte e um anos e três meses de casados em que a parceria e a cumplicidade enfrentavam qualquer vento contra na capital federal. Vieram as filhas, Rafaela e Gabriela — nomes que aludem aos anjos —, e Edu e suas três meninas mudavam de um apartamento para outro na mesma Asa Norte onde o casal começou a namorar. “Finalmente ele realizou o sonho de morarmos em uma casa, num condomínio do Grande Colorado, mas foi por pouco tempo, só cinco meses”, lamenta a esposa.

Paizão presente, Sinara afirma que Edu sempre deu aquela força, desde o parto. “Lembro que deu banho na Rafaela até seu último dia de férias antes de voltar a trabalhar, ou seja, eu só dei banho sozinha na nossa bebê no 17º dia de vida dela. Ela nasceu em janeiro e nós dois tínhamos férias escolares”. Era do tipo que trocava fralda e dava papinha. Durante o primeiro mês da segunda filha, dormiu no quarto com a primogênita para a mãe poder se dedicar à nova integrante da família. “Ele me passava muita segurança nos cuidados com as meninas”, ressalta Sinara.

Metido a fotógrafo, Dudu curtia parar num ponto bonito do lago e registrar imagens das filhas. “Ele era a parte mais divertida e eu a 'general' que tentava botar ordem na casa”, ri Sinara. Também gostava de caminhar pelo Parque Olhos D’Água e levar suas garotas. Antes delas, foi um pai amoroso para Luís Paulo, filho único de seu primeiro casamento. “Eram amigos. Paulo morou conosco por dois anos, antes do nascimento da Rafa, depois foi para Cuiabá, no Mato Grosso, com a mãe. Infelizmente, ele faleceu num acidente de carro em 2010. Edu ficou devastado”.

Dono de um coração bondoso, o pisciano da gema era carente, sonhador e sensível, daqueles que, segundo a esposa, "chorava até com capítulo de novela”. Como nativo do Plano Piloto, conhecia tanta gente que Sinara brincava: “Por que não se candidata a deputado distrital"?

Em qualquer lugar que iam na cidade ou até fora de Brasília, Edu sempre parava para dar um oi ou para acenar a alguém, sem contar as vezes nas quais era confundido com o irmão gêmeo e fingia saber quem estava falando com ele.

“Meu esposo lindo, como o chamava, era assim: discreto, porém engraçado com os mais íntimos. Ele gostava de dar sustos nas meninas. Chegar despercebido, fazer cócegas... Elas reclamavam, mas de fato adoravam”, garante Sinara.

Ninguém é perfeito e a mania de deixar a luz acesa por onde passava e de lavar a louça com a torneira aberta deixavam Sinara bem brava. “Edu também guardava mágoas, não esquecia facilmente...”, diz, mas, ao mesmo tempo, “era muito querido, colocava-se à disposição para ajudar amigos e parentes sempre que precisavam. Dois exemplos: um amigo e o irmão mais velho (em épocas diferentes) fizeram cirurgia nos joelhos e, nas duas ocasiões, era o Edu quem os levava às sessões de fisioterapia e às consultas, por vários meses”.

Dudu valorizava os momentos com os pais, irmãos, tios e primos. Não perdia a chance de confraternizar, de comer uma boa picanha e de pegar uma sauninha ao lado dos familiares. Viajar e sair para almoçar ou jantar fora estavam entre os programas preferidos do casal. “Aqui todos gostamos de comer”, admite a esposa.

Foram uma única vez ao exterior, para a Argentina, num pacote-surpresa para Sinara. “Em 2019, conseguimos ir ao Rio de Janeiro com as meninas. Era um desejo grande dele nos levar à Cidade Maravilhosa, pois morara lá por um ano antes de a gente se conhecer”.

Nos últimos anos, Edu havia se tornado um pizzaiolo requisitado para eventos, onde suas criações faziam sucesso. “A pizza do meu pai era a melhor, todos amavam; eu sempre o ajudava a embalar as pizzas e depois ele fazia uma de banana com chocolate para mim”, revela Gabi, que não esconde a saudade imensa do pai, carinhoso e atencioso. “Meu pai era o melhor pai do mundo. Brincalhão, adorava velejar no lago e andar de bicicleta com a gente. Grande companheiro. Toda noite e toda manhã ele ia ao meu quarto me dar bom-dia ou boa-noite. Muitas vezes, quando ele ia pegar a Rafa e eu na escola, comprava um lanche, um sorvete... Ele e eu íamos muito na piscina juntos. Meu pai foi um dos homens mais bondosos que já conheci, ele sempre ajudava todo mundo. Eduardo Pedroza foi amado por muita gente. Sinto muita saudade dele, do seu beijo e do seu abraço, ele sempre vai estar comigo. Pai, te amo e nunca vou deixar de te amar”.

A filha Rafa faz questão de salientar a gentileza e generosidade do pai: “O meu pai era um homem bom. Sempre foi um pai presente, que nos levava para passear e se divertir com ele. Com certeza era um ótimo filho, atencioso, que ajudava, não só à família, mas a todo mundo. Ele sempre se importava e pensava na felicidade dos outros, era muito caridoso. Um amigo legal, um companheiro. Tenho saudades do seu abraço, sinto falta dos momentos que passávamos em família, dos planos que fazíamos, das viagens... Todos os dias me lembro dele. A sua ausência ainda é muito difícil. Apesar da dor ter diminuído, ainda sinto muito a sua falta. A saudade que sinto do meu pai parece que aumenta todos os dias. A sua partida foi tão rápida e mudou a nossa vida. Mas, ainda assim, ele deixou muito carinho para nós. Eu sempre vou recordar o pai maravilhoso e o homem exemplar que ele era”.

Para a mãe, Solange, o caráter gentil e amável era o maior talento do filho: “Luís Eduardo era capaz de enxergar as qualidades positivas dos familiares e dos amigos. Amava de forma incrível a 'Sissi' e as filhas dele, além de prestigiar a vida em família. Sempre lembrava de todos para os quais gostaria de trazer uma lembrança das viagens que fazia comigo, por mais apertados que fossem os orçamentos. Quanta falta nos faz!”.

O pai, Sérgio, sofre com a ausência do filho mais ligado a ele: “Nos últimos anos, eu já estava meio baqueado de saúde, então, ele passava aqui em casa toda semana, saía comigo para fazer as compras de mercado. Sempre solícito. A falta que ele me faz é indescritível”.

E o que dizer do vazio deixado pelo esposo? “Faço das palavras dos meus sogros as minhas palavras. Edu era muito gentil e paciente com seus pais, que podiam contar com ele para qualquer coisa, para resolver pendências, para levar aos lugares. Ajudava com bom humor. Meu marido lindo era uma pessoa muito bacana e carinhosa. Sempre me amou muito, gostava de estar e de sair comigo; foi comigo em várias festas maravilhosas aqui em Brasília. Em 2019, fomos a um show do Bell Marques (ex-vocalista do Chiclete com Banana), mesmo sem ele gostar desse tipo de música. Nunca vou me esquecer da resposta que Edu deu a um colega quando nos viu na plateia: “— Ué, Dudu, você gosta do Bell e de Axé?" "— Eu gosto da Sinara”. Eu sonhava que envelheceríamos juntos para curtir a vida quando as meninas saíssem de casa. Serei eternamente grata por todos os momentos que vivemos e por tudo o que aprendi com ele”.

“Vamos levantar a vela
Abrir a janela
Ventilar a dor”
(Marisa Monte)

Luis nasceu em Brasília (DF) e faleceu em Brasília (DF), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Luis, Sinara Assunção Rodrigues Pedroza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Luciana de Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Luciana de Assunção em 5 de novembro de 2021.